Os vírus não têm pátria. E a vacina anticovid?

É com este desprendimento e numa perspetiva populacional alargada que temos de agir urgentemente se queremos pôr fim a um flagelo de escala mundial.

A pandemia está descontrolada a nível mundial. Nuns países mais que noutros, é certo, mas, globalmente, o vírus continua indomável. O País não escapa à regra, os serviços de saúde estão no limite da capacidade, sendo as ameaças de rotura constantes. Esgrimem-se erros e justificações, com pouco proveito no combate a um inimigo resiliente e decidido a viver custe o que custar.

Nesta luta pela sobrevivência há duas variáveis fundamentais: a evolução do agente infetante, sobre a qual pouco podemos fazer, e as medidas de defesa da humanidade. Aqui sim, mais poderia ter sido feito e, olhando em frente, muito mais poderemos fazer se soubermos ser cooperantes, esbatendo fronteiras ao invés de persistirmos numa visão autárcica, mesmo quando a dimensão territorial tem o tamanho da União Europeia.

Num momento em que a propagação do vírus está generalizada na população, pensar-se que é apostando no rastreio de cadeias de infeção, aumentando os inquéritos epidemiológicos, que reside a principal medida de combate à pandemia é ilusório. Quando 87% dos infetados não foi contactada pelas autoridades de saúde para ser feito o habitual rastreio epidemiológico, como vamos recuperar admitindo que há recursos humanos no País para meter mãos à obra? Admito a utilidade da tarefa no rastreamento de cadeias de transmissão em lares ou serviços de saúde, por exemplo, mas, de forma generalizada, é condenar os médicos de Saúde Pública à punição de Sísifo.

Para além das medidas de confinamento, uso generalizado de máscara e distanciamento social, o que podemos e temos de fazer com brevidade é a vacinação generalizada dos grupos de maior risco, idosos em especial. Para tal são precisas vacinas em quantidade, seguras e eficazes, produzidas e distribuídas a nível mundial. Além do que nos é dito sobre as vacinas do nosso “hemisfério”, que sabemos nós disso? Rússia e China têm planos de vacinação em curso. Que tipo de vacinas e que avaliação sobre as mesmas têm as respetivas agências de regulação? Israel tem, segundo dados do Worldmeter, o melhor desempenho no combate à pandemia (número de infetados e mortalidade) a nível mundial. Está a vacinar em massa. Com que tipo de vacina, onde é fabricada e tudo o mais que nos possa interessar, desconhecemos.

Laboratórios gigantes do nosso “hemisfério”, como é o caso da Sanofi-Pasteur, informam que, por atraso na produção, a vacina anticovid-19 só estará disponível no final do ano em curso. Sabemos ter sido este um dos principais laboratórios contratualizados pela UE. Como vai ser ultrapassado este constrangimento? Entretanto, o Kremlin anuncia que Putin e Merkel terão conversado sobre produção conjunta de vacinas anticovid. Pelo noticiado, a cooperação envolveria apenas os dois países. Sobre este assunto devemos exigir mais informação à Alemanha.

Na história das vacinas inscrevem-se relatos de uma humanidade ímpar. Lembre-se o que disse Jonas Salk, virologista norte-americano de naturalidade russa, pai da vacina antipoliomielite, quando questionado sobre a quem pertencia a vacina:

– A quem pertence a minha vacina? Ao povo! Você pode patentear o sol?

É com este desprendimento e numa perspetiva populacional alargada que temos de agir urgentemente se queremos pôr fim a um flagelo de escala mundial.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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