Centeno: Empresas viáveis devem ser “receptoras privilegiadas dos apoios públicos”

O governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, sublinhou hoje que é necessário garantir “a resiliência do sistema bancário em face de um provável aumento das perdas de crédito”.

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“O sector bancário resistiu bastante bem à crise até ao momento" afirmou Mário Centeno, Nuno Ferreira Santos

Para o governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, a pandemia veio encontrar a economia portuguesa mais bem preparada do que no passado recente, mas é preciso ter a consciência de que, a médio prazo, “o sobreendividamento pode levar à redução do investimento, enfraquecendo a competitividade e o crescimento económico”.

Assim, afirmou esta manhã o ex-ministro das Finanças, “são necessárias medidas de fortalecimento do capital das empresas, para reduzir a alavancagem e aumentar a sua capacidade de serviço da dívida”. “Uma utilização eficiente dos fundos públicos”, defendeu, “exige o estabelecimento de procedimentos que permitam uma identificação efectiva das empresas viáveis, que devem ser as receptoras privilegiadas destes apoios”.

Discursando na abertura de uma conferência sobre a banca organizada pelo Dinheiro Vivo e pela TSF, o governador do Banco de Portugal destacou que, ao contrário do passado, os bancos estão a fazer parte da solução – e não do problema –, e que também as empresas estavam mais bem preparadas (menos endividadas), além da rápida resposta dos governos e instituições europeias. 

A covid-19, disse Centeno, veio colocar um “travão severo” à economia, que este será temporário “se conseguirmos manter a capacidade produtiva” e se “estivermos preparados para retomar a actividade por completo” como diz já ter sido sinalizado em Junho.

“Com a incerteza elevada e a recuperação ainda parcial”, alertou o ex-ministro, os riscos de uma retirada precoce dos apoios “parecem sérios, exigindo avaliações cautelosas”. “A modulação adequada das estratégias de saída deve levar em consideração a evolução dos acontecimentos sanitários, económicos e financeiros. As diferentes autoridades deverão também coordenar entre si esse momento de alteração das políticas”, destacou.

Com a crise, surgiram as perdas, “assimetricamente distribuídas entre os membros da sociedade”. “A dispersão das perdas ao longo do tempo é a única forma de evitar que no futuro, mais ou menos distante, surjam de novo as impossibilidades e inevitabilidades de não haver alternativas”, afirmou Centeno.

“Sabemos, desde já, que a crise trouxe consigo um aumento da dívida pública e da dívida privada, tal como um acentuar da desigualdade. Mas sabemos o que fazer em cada um dos instantes do nosso futuro próximo”, acrescentou o governador do banco central, realçando que esta realidade “tem de ser tida em conta na definição das políticas públicas”.

Por outro lado, olhando para as instituições financeiras, afirmou que é preciso “garantir a resiliência do sistema bancário em face de um provável aumento das perdas de crédito”. As entidades bancárias, afirmou, “começaram desde logo a provisionar os riscos de crédito, dando assim um passo prudencial adequado”. Mas o sector continua a enfrentar problemas de rentabilidade e tem “de responder aos desafios provocados pela digitalização”. Mais uma vez, defendeu, as soluções “não devem origem em cada um dos países europeus”, mas a nível colectivo.

“O sector bancário resistiu bastante bem à crise até ao momento, apesar de uma série de riscos e vulnerabilidades”, disse Centeno, defendendo que ajudou a evitar uma crise de crédito que teria sido “dramática” para a economia.

Logo depois, avisou que “não devemos perder de vista as principais fraquezas estruturais” do sector a nível europeu, e que “eram evidentes antes desta crise”. “É preciso”, defendeu, “continuar a reduzir o excesso de capacidade e a melhorar a relação custo-eficácia para fazer face à baixa rentabilidade, procurando modelos de negócio que respondam a uma economia cada vez mais digital”.

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