Entre presos e funcionários, há 248 infectados nas cadeias portuguesas

Serviços prisionais confirmam seis novos infectados na prisão de Lisboa e 200 reclusos de duas alas inteiras em quarentena. São testados nesta quarta-feira

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A prisão feminina de Tires é a parcela que mais pesa nas estatísticas, mas no sistema prisional português existem actualmente 248 pessoas infectadas com covid-19. Além de 168 reclusos (148 são mulheres do estabelecimento prisional de Tires), há 80 funcionários com a doença: 52 guardas prisionais, 14 profissionais de saúde, sete técnicos profissionais de reinserção social, três auxiliares técnicos, dois professores, um auxiliar de cozinha e um segurança de empresa privada.

Os dados referem-se à tarde desta terça-feira e foram compilados a pedido do PÚBLICO pela Direcção-geral de Reinserção e Serviços Prisionais (DGRSP). Mas arriscam-se a ficar desactualizados por escassez, uma vez que no estabelecimento prisional de Lisboa (EPL) foram dados como positivos seis presos “na sequência de testes efectuados aos reclusos colocados nos serviços clínicos”. Apesar de assintomáticos, foram transferidos para o Hospital Prisional de São João de Deus, em Caxias. Porém, os técnicos de saúde pública estiveram na cadeia a fazer o levantamento de contactos de risco e foi decidido colocar os reclusos das alas H e C (cerca de 200) em quarentena e fazer-se-lhes testes nesta quarta-feira, dia 11, descreve a DGRSP. “Serão igualmente testados os trabalhadores identificados (cerca de 30) como tendo tido contactos susceptíveis de risco de contágio.”

Se há 148 casos em Tires e seis em Lisboa, os restantes serão de prisões um pouco por todo o país, mas a direcção-geral não revela a proveniência dos reclusos porque isso poderia contribuir para a sua identificação. Em Tires, devido ao elevado número de infectadas – no pavilhão das preventivas foram identificadas 121 positivas em quase 170 testadas -, a opção foi juntar todas as reclusas no mesmo pavilhão, depois de já terem sido canceladas as aulas, trabalho, as compras na “cantina” e as refeições no refeitório. Ainda que isso tenha implicado juntar reclusas preventivas, condenadas e algumas consideradas mais vulneráveis devido à idade e condição de saúde – algo que não é recomendado. As cinco guardas prisionais, as duas enfermeiras e uma auxiliar de cozinha que testaram positivo estão a cumprir isolamento em casa.

De Tires foram transferidas para Caxias duas reclusas e outras duas para a prisão feminina de Santa Cruz do Bispo ainda antes da testagem em massa de quinta-feira e sábado. Os restantes infectados das outras cadeias estão no hospital prisional de Caxias (Lisboa) e no espaço clínico da cadeia de Custóias (Porto).

Se a ministra da Justiça disse na segunda-feira no Parlamento que as prisões portuguesas eram até ao caso de Tires um exemplo de um “milagre” por não terem surtos, a verdade é que os houve. Como em Chaves, em meados de Setembro, e em Leiria (no centro para jovens), há um mês, por exemplo. É a DGRSP quem contabiliza, desde o início da pandemia, 144 casos recuperados, sendo 79 de trabalhadores, 61 de reclusos e quatro de jovens internados em centros educativos.

Em Tires, depois de quase duas semanas complicadas – entre o aparecimento do primeiro teste positivo de uma reclusa que havia sido transferida para Caxias, as acusações das reclusas de que estavam a viver em condições “desumanas" e os resultados de duas levas de testes às 402 reclusas e 140 trabalhadores, na sua larga maioria guardas prisionais -, os serviços prisionais garantem que a situação está estabilizada tanto nos números como na “situação de saúde das pessoas que acusaram positivo à covid-19”. As duas crianças filhas de reclusas que testaram positivo e que vivem na prisão de Tires tiveram ontem consulta de pediatria num hospital do SNS, mas regressaram à cadeia e estão com as respectivas mães. Das mais de 500 pessoas testadas em Tires, a DGRSP afirma que só houve um resultado inconclusivo. Questionada se já foi aberto alguma investigação sobre o surto para apuramento de responsabilidades, a DGRSP responde que “a origem do surto está a ser avaliada pelas autoridades de saúde publica”.

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