Contestação a João Lourenço sobe em Angola

O mau estado da economia angolana e escândalos de corrupção, com a Sonangol no centro, estão a afectar a popularidade do Presidente. Para este sábado estão marcadas várias manifestações no país.

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João Lourenço está a ser contestado por causa da condução da economia pelo seu Governo Reuters

A grande maioria dos angolanos desaprova o desempenho económico do Governo de João Lourenço em Angola. De acordo com a sondagem feita pela empresa de estudos de opinião Ovilongwa para o Afrobarómetro, 71% dos inquiridos têm uma visão má ou muito má do desempenho geral do executivo em matéria económica, numa altura em que, além da crise, o Presidente angolano é alvo de críticas em várias frentes, com manifestações agendadas para sábado, uma petição a correr para exigir a abertura de um inquérito à Sonangol e acusações de corrupção contra um dos seus mais próximos colaboradores, Edeltrudes Costa, o seu chefe de gabinete.

Se é certo que, em termos políticos, as opiniões se dividem mais em relação à actuação do chefe de Estado e do seu Governo, com 45% de desaprovações e 43% de pessoas que a encaram de forma positiva, é na questão económica que a apreciação do executivo cai a pique. Na manutenção da estabilidade dos preços a sua actuação é muito mal vista, com 78% de desaprovação. Também na melhoria da vida dos pobres (75%) e na criação de emprego (75%) João Lourenço e o seu executivo geram muitas opiniões negativas.

Não ajuda o chefe de Estado que um dos seus mais próximos colaboradores no Governo, o seu chefe de gabinete, se veja agora envolvido num alegado caso de enriquecimento ilícito, divulgado pela TVI24, arrecadando milhões de dólares com contratos com o Estado angolano. A oposição já pediu uma investigação “urgente”.

“A ser verdade, é uma situação muito preocupante”, afirmou o deputado da UNITA Alcides Sakala, citado pelo diário Novo Jornal. “Esperamos que as autoridades façam um inquérito urgentemente para se apurar a veracidade dos factos”, acrescentou. “Para maior credibilidade no combate à corrupção, ao nepotismo e ao desvio do erário público, o Governo deve aceitar submeter-se às acções de fiscalização, submeter-se às auditorias, e o Parlamento deve permitir a criação das comissões parlamentares de inquérito para aferir a seriedade deste combate”, afirmou o ex-candidato à liderança do principal partido da oposição, referindo-se ao facto de o MPLA, o partido no poder, com base na sua maioria de dois terços na Assembleia Nacional, impedir que se criem comissões de inquérito para fiscalizar a acção do executivo e dos ministros.

Num momento de crise económica profunda, acentuada pela pandemia que a veio agudizar, alguns sectores da sociedade angolana parecem fartos da incapacidade do Governo de João Lourenço para melhorar a vida das populações. Para este sábado, várias manifestações foram convocadas para diferentes pontos do país em protesto contra o desemprego galopante. O porta-voz da organização, Leonardo Kenenyata, disse à Voz da América que pretendem exigir ao Presidente que cumpra “a sua promessa eleitoral de criar 500 mil empregos”.

Ao mesmo tempo, está a decorrer uma campanha de assinaturas para exigir um inquérito à petrolífera Sonangol, numa altura em que o antigo sócio da seguradora AAA, Carlos São Vicente (casado com uma filha de Agostinho Neto, primeiro Presidente do país), foi detido preventivamente por suspeita de desvio de dinheiro quando a empresa detinha o monopólio dos seguros petrolíferos em Angola, negócio muito lucrativo que terá lesado o Estado em centenas de milhões de dólares (a justiça suíça aceitou o congelamento de 900 milhões de dólares em contas do empresário naquele país).

“Esta empresa é o cancro da corrupção, por isso entendemos que é necessário exigirmos uma auditoria independente”, explicou Miguel Kimbenze, da organização da petição, à mesma Voz da América.

A Sonangol viu-se, esta semana, de novo envolvida na guerra entre a família do ex-Presidente José Eduardo dos Santos e os mais próximos de João Lourenço. O braço direito da empresária Isabel dos Santos, que trabalhou com ela na Sonangol, Mário Leite Silva, acusou o antigo presidente do conselho de administração da empresa e ex-vice-presidente de Angola, Manuel Vicente, de ter desviado 193 milhões de dólares da empresa.

Em comunicado, Vicente considerou a acusação falsa, feita com “má-fé” e com base em “interesses inconfessos” e atribuiu-a a uma estratégia de defesa de Isabel dos Santos, acusada de má gestão e desvio de fundos da Sonangol quando o pai a colocou ao leme da empresa. Manuel Vicente refere no seu comunicado que vai reunir-se com os seus advogados para saber se avança com um processo judicial contra Mário Leite Silva.

Mas a verdade é que a Procuradoria-Geral da República de Angola, “por existirem fortes indícios da prática de crimes de peculato, participação económica em negócio, tráfico de influências e branqueamento de capitais”, resolveu apreender mais imóveis de Carlos São Vicente, por considerar que foram adquiridos com dinheiros públicos. “De entre os bens apreendidos encontra-se um imóvel, sito no condomínio Sodimo, na praia do Bispo, que servia de escritório do Eng. Manuel Vicente, ex-PCA da Sonangol”, diz a procuradoria em comunicado.

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