Covid-19: crianças com cancro devem ir à escola, a menos que estejam no início do tratamento ou tenham outras doenças

Só quando “a segurança da criança possa estar em risco devido ao seu estado clínico e/ou à intensidade da terapêutica a que é sujeita em determinadas fases do seu percurso terapêutico”, o IPO de Lisboa recomenda o afastamento escolar.

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rui Gaudencio

O regresso às aulas traz sérias preocupações aos pais e às mães de crianças com doenças graves, como o cancro. A orientação geral do Instituto Português de Oncologia (IPO) de Lisboa - Francisco Gentil é para deixá-las ir à escola.

Os especialistas recordam que as crianças tendem a ficar assintomáticas e a sofrer formas menos graves da doença do que os adultos. “Abaixo dos 10 anos de idade, as taxas de transmissão e de infecção por SARS-CoV-2 parecem ser mais baixas”, lê-se na nota emitida pelo Serviço de Pediatria. A reabertura das escolas não deverá aumentar demasiado as taxas de infecção, uma vez que os contágios acontecem mais no seio familiar.

Nem todas devem voltar às aulas. Cada regra tem a sua excepção. Quando “a segurança da criança possa estar em risco devido ao seu estado clínico e/ou à intensidade da terapêutica a que é sujeita em determinadas fases do seu percurso terapêutico”, recomenda-se o afastamento escolar, “como já se fazia antes da pandemia”. Cada caso deverá ser avaliado pelos médicos assistentes e discutido com os pais. Sempre que as crianças com doença oncológica precisarem de medidas especiais de protecção, deverá ser elaborado um relatório clínico.

“Neste momento, não há evidência de que as crianças com cancro tenham mais risco, quer de contrair a doença covid-19, quer de ter formas mais graves da doença, dependendo obviamente da fase de tratamento em que se encontram”, explicou Filomena Pereira, directora do serviço de pediatria, citada pela Lusa. “Estas crianças, que estejam em tratamento ou tenham concluído o tratamento, correm riscos acrescidos de contrair uma doença infecciosa, no caso de haver uma varicela ou sarampo e não é por isso que deixam de ir à escola”, exemplificou. Devem ir, a menos que estejam no início do tratamento, o que as deixa muito debilitadas, ou tenham doenças cardíacas ou respiratórias. 

Na nota publicada no seu site, o IPO de Lisboa deixa algumas recomendações específicas para as famílias das crianças com cancro: “utilização de máscara protectora a partir dos dois anos de idade, desde que a criança o consiga fazer. Ensino da higiene regular das mãos. Ensino das regras de distanciamento físico. Administração da vacina da gripe aos coabitantes (pessoas que vivem na mesma casa). Que os irmãos que frequentam a escola sigam escrupulosamente as regras definidas, devendo desinfectar-se quando chegam a casa.”

A posição do IPO vai ao encontra da já divulgada pela Sociedade Portuguesa de Pediatria (SPP), a Sociedade de Infecciologia Pediátrica da SPP e o Colégio de Pediatria da Ordem dos Médicos. “As crianças parecem ter menor incidência da doença e desenvolver sintomas ligeiros e transitórios, de evolução benigna, sendo os internamentos e as fatalidades excepcionais”, lê-se no site da SPP. “A inquietação quanto ao ensino presencial deve-se, sobretudo, ao possível impacto da abertura das escolas na comunidade”. Ora, “os poucos estudos disponíveis, em países onde o ensino presencial foi retomado, indicam que os surtos escolares são raros e tendem a ocorrer sobretudo por transmissão entre os profissionais adultos”. 

No entender daquelas três entidades, “para que o ano escolar decorra sem necessidade de interrupções, deverão ser mantidas as medidas propostas que evitem o cruzamento desnecessário de grandes grupos de crianças mas, em cada grupo, dever-se-á assegurar normalidade nas relações entre crianças, não impondo medidas estritas que sejam impossíveis de cumprir”. Parece-lhes “essencial que se retomem as brincadeiras nos intervalos das aulas e que estes tenham uma duração adequada”.

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