Sociedade Portuguesa de Pediatria aconselha aulas presenciais com tempo e espaço para brincar

Numa nota conjunta com a Sociedade de Infecciologia Pediátrica e o Colégio de Pediatria da Ordem dos Médicos, dizem ser necessário acompanhar os novos desenvolvimentos, mas referem que os estudos indicam que os surtos escolares são raros.

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Sergio Azenha

A Sociedade Portuguesa de Pediatria (SPP), a Sociedade de Infecciologia Pediátrica da SPP e o Colégio de Pediatria da Ordem dos Médicos aconselham o regresso às aulas presenciais. Numa nota disponível no site da SPP, as três direcções dizem ser necessário acompanhar os novos desenvolvimentos da pandemia, mas referem que os estudos para já conhecidos indicam que os surtos escolares são raros.

Sem desvalorizar os dados relacionados com as crianças, as três sociedades representantes dos pediatras procuram deixar uma mensagem de tranquilidade aos pais relativamente ao início do próximo ano escolar, marcado para a segunda quinzena de Setembro. Lembram que a interrupção das aulas em Março teve “grande impacto na saúde das crianças, a nível da aprendizagem, da socialização e da saúde mental”.

Salientam a insatisfação sentida pelas crianças, sobretudo as do 1º ciclo, com o ensino por videoconferência, dificuldades de concentração e em realizar tarefas, saudades dos colegas e dificuldades no acesso a meios informáticos que acentuaram as diferenças dos mais desfavorecidos.

“O apoio a crianças com necessidades educativas especiais foi escasso. Crianças com doença crónica complexa ficaram privadas das diferentes terapias de que beneficiavam em ambiente escolar, o que contribuiu, em muitos casos, para a regressão da condição de base”, apontam. A que se junta o “enorme esforço” exigido às famílias.

“São todas fortes razões para que se retome o ensino presencial”, afirmam os especialistas, que referem que a “inquietação quanto ao ensino presencial deve-se, sobretudo, ao possível impacto da abertura das escolas na propagação da covid-19 na comunidade”. Quanto a esta questão, referem que a informação existente sugere que as crianças não sejam o grande veículo de transmissão da infecção.

Os estudos disponíveis — que são ainda poucos, lembram as sociedades científicas —, sobre a transmissão da infecção em ambiente escolar “indicam que os surtos escolares são raros e tendem a ocorrer sobretudo por transmissão entre os profissionais adultos, em zonas onde a transmissão na comunidade é elevada, não parecendo ser a transmissão criança a criança nem adulto a criança relevante na propagação de surtos”. “Embora seja fundamental manter vigilância, pois os dados podem vir a sofrer alterações com a reabertura total das escolas, até agora as crianças parecem ter menor probabilidade de contrair a infecção na escola do que na comunidade.”

“Assim, para que o ano escolar decorra sem necessidade de interrupções, deverão ser mantidas as medidas propostas que evitem o cruzamento desnecessário de grandes grupos de crianças mas, em cada grupo, dever-se-á assegurar normalidade nas relações entre crianças, não impondo medidas estritas que sejam impossíveis de cumprir, sobretudo pelas mais jovens. É essencial que se retomem as brincadeiras nos intervalos das aulas e que estes tenham uma duração adequada”, afirmam no comunicado.

O mais importante é o cumprimento das regras de higiene e distanciamento físico por parte dos adultos, quer na escola quer na comunidade, e o isolamento precoce de casos sintomáticos e o rastreio rápido dos contactos. Sobre o uso de máscaras por parte das crianças, não fazem referência a idades. Dizem que o seu uso “terá de ter em conta os novos dados que estão a surgir na literatura”.

Os pediatras terminam a nota dizendo que “deve existir flexibilidade no cumprimento das normas, em cada momento e tendo em conta os dados locais de transmissão na comunidade” e fazem uma recomendação direccionada para as crianças que vão pela primeira vez para a escola: que sejam criadas condições para que possam ser acompanhadas por um familiar.

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