Quebra económica “chocante” na Alemanha e França faz temer o pior na zona euro

Actividade económica está no nível mais baixo em 22 anos. Quebras são maiores do que as esperadas. Reino Unido afunda-se. PIB da zona euro estará a cair 7,5% em termos trimestrais.

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Francois Lenoir/Reuters (Arquivo)

Quando os líderes europeus ligarem esta quinta-feira microfones e câmaras para mais um Conselho Europeu, desta vez por videoconferência, terão uma lista de indicadores preocupantes, que voltou a crescer nesta manhã. Os índices de produção na Alemanha e na França, medidos pelo indicador de actividade económica PMI, caíram mais do que o esperado, piorando os cenários mais imediatos para o conjunto da União Europeia (UE). Na zona euro, a quebra é de mais de 50% face a Março, projectando-se por isso uma quebra de até 7,5% na evolução trimestral do Produto Interno Bruto para o conjunto das economias do euro.

Os números de Abril do PMI compósito, que mede actividade industrial e nos serviços, reflectem a travagem abrupta provocada pelas duras restrições à circulação de pessoas e à própria actividade económica. A generalidade dos países tentou assim baixar o risco de contágio desta pandemia causada pelo coronavírus SARS-CoV-2. Mas essas medidas estão a ter efeitos colaterais duros na economia. Ninguém escapa, nem o Reino Unido, que já não integra o lote da UE. 

Na Alemanha, o PMI caiu de 35,o, o valor em Março, para 17,1. Trata-se de uma quebra “chocante”, segundo analistas habituados a acompanhar a evolução da maior economia europeia. A perspectiva da Reuters era de uma descida para um valor em torno dos 31 pontos - muito mais pequena do que a realidade agora mostra.

“Comparado com o valor mínimo de 36,3 pontos registado no período da crise financeira, estes 17,1 pontos são uma imagem chocante do impacto da pandemia na economia”, refere um dos analistas envolvidos na elaboração deste importante indicador económico global.

Em França, que se tornou a segunda maior economia da UE após a saída do Reino Unido na sequência do “Brexit”, o índice compósito desceu de 28,9 em Março, para 11,2 em Abril.

Ao contrário da Alemanha, que registou quebras maiores na produção industrial (a mais importante do país), em França registou-se uma maior deterioração no sector dos serviços, que é o componente com mais peso neste indicador PMI.

Em termos globais, para a zona euro, o índice atinge o valor mais baixo desde que começou a ser calculado, há 22 anos. Dos 29,7 registados em Março, o PMI desce para 13,5 em Abril, uma quebra superior a 50%.

Um cenário que, segundo admite a IHS Markit, que produz estes relatórios, significará que o PIB da zona euro estará a cair 7,5% no trimestre. O que a confirmar-se representaria uma descida entre duas e três vezes maior do que a pior quebra trimestral durante a recessão provocada pela crise financeira de 2008/09.

Os sinais negativos avolumaram-se nesta quinta-feira mesmo fora da UE. No Reino Unido, o mesmo PMI caiu de 36 para 12,9, uma redução de quase dois terços. E na Suíça, o banco central reportou o pior trimestre de sempre, com perdas de 36 mil milhões de euros nas reservas do franco suíço.

Apesar do cenário preocupante, as bolsas europeias estão a aguentar-se, com Paris e Madrid em terreno positivo, às 10h30, e Londres e Frankfurt com pequenas quebras. O índice pan-europeu Stoxx Europe 600 seguia a ganhar 0,11%.

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