Fábrica de Guimarães a trabalhar para calçar “guerreiros da pandemia”

Profissionais de saúde, bombeiros, militares do exército e trabalhadores de supermercados e da área da logística são agor os grandes focos da empresa.

Foto
nelson garrido

Centrada no nicho de equipamento de protecção individual (EPI), a fabricante portuguesa de calçado Lavoro, de Guimarães, continua em plena laboração, para “não deixar descalços” aqueles que estão na linha da frente do combate à pandemia de covid-19.

“Temos de manter a fábrica aberta, para ajudar toda a indústria que está agora em pressão e todos os profissionais e toda a gente que continuam a servir a população, tanto em Portugal como no estrangeiro”, declara Teófilo Leite, administrador da Indústria de Comércio de Calçado, que detém a marca Lavoro.

Profissionais de saúde, bombeiros, militares do exército e trabalhadores de supermercados e da área da logística são agora, com a covid-19 a fazer estragos um pouco por todo o lado, os grandes focos da empresa.

Para segundo plano, à espera de melhores dias, fica por agora o calçado para a construção civil e outras actividades industriais que normalmente têm um peso decisivo no volume de negócios.

Teófilo Leite fala numa quebra de cerca de 60%, mas sublinha que uma empresa “bem calçada” como a Lavoro não vai abaixo com facilidade. “Não há mal que não traga bem”, atira o administrador, convicto de que aquela quebra será compensada com novas encomendas provenientes de outros sectores de actividade que actualmente “dão o peito às balas” no combate à covid-19.

Como exemplo, aponta parceiros na Alemanha que estão a reforçar encomendas de calçado à prova do frio, para operar nas áreas da refrigeração e armazenamento do sector alimentar.

No último ano, a Lavoro facturou 17 milhões de euros e para este colocou a fasquia nos 20 milhões. Uma meta que se mantém, apesar da crise pandémica.

Entre 65 e 70% da produção é para exportação para perto de 60 países, sobretudo da Europa, mas o calçado de segurança da Lavoro chega também a destinos mais ou menos improváveis, como a Mongólia.

A fábrica emprega 240 trabalhadores, a esmagadora maioria dos quais se mantém ao serviço, com excepção daqueles, poucos, que apresentam alguma patologia que os poderá tornar mais vulneráveis face a um eventual ataque do novo coronavírus.

Ana Rita, uma das responsáveis pelo plano de contingência da empresa, explica que, mal se começou a ouvir falar nesse “bichinho”, a empresa analisou as fichas clínicas de todos os colaboradores. “Os que tinham alguma patologia associada foram mandados para casa, assim como colocámos em teletrabalho todos os que tinham condições para isso”, informa.

Um dos que está em teletrabalho é Teófilo Leite pai, o homem que há 30 anos fundou a Lavoro e que não se deixa atemorizar pelo momento “complexo” que se vive em Portugal e no mundo. Por videoconferência, o fundador da empresa diz que há que ter a serenidade suficiente para “entender” o momento e a sagacidade necessária jogar “em antecipação”.

Apontou, como exemplo, um projecto de calçado para diabéticos que a empresa tem em curso e que agora deve ser acelerado, para abrir novos mercados ao mercado da Lavoro. “Temos que olhar para crises anteriores e retomar o plano de substituição das importações — o “compre o que é nosso” é muito importante —, ao mesmo tempo que temos de aumentar as exportações”, defende.

Entretanto, a laboração segue a velocidade de cruzeiro. Nalguns casos, como diz Teófilo Leite filho, a empresa está até a fazer horas extras para atender às encomendas de produtos específicos para quem está envolvido no combate à pandemia.

À incerteza que inquieta na actualidade, o empresário contrapõe uma certeza que lhe dá força para continuar: “vai ficar tudo bem, seguramente”.

Portugal, onde os primeiros casos confirmados foram registados no dia 2 de Março, encontra-se em estado de emergência desde as 0h de dia 19 e até às 23h59 de 02 de Abril.

Sugerir correcção
Comentar