Até 2030 o mundo tem de reduzir anualmente 7,6% das suas emissões de gases de estufa

Este é o valor apontado pelo Programa das Nações Unidas para o Ambiente para se consiguir atingir o objectivo de manter o aumento de temperature abaixo dos 1,5 graus Celsius. A última década foi de “falhanço colectivo”.

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Fenómenos meteorológicos extremos serão cada vez mais frequentes se não travarmos o aumento da temperatura Nelson Garrido

Os alertas têm sido muitos e cada vez mais prementes: o mundo está em emergência climática e não há tempo a perder – o momento de agir é agora. Isso mesmo é vincado no mais recente relatório do Programa das Nações Unidas para o Ambiente (PNUA) sobre o fosso entre a redução de emissões de gases com efeito de estufa (GEE) que os países conseguirão se cumprirem os seus planos actuais e a redução que precisaríamos de obter para que fossem cumpridas as metas do Acordo de Paris no controlo do aquecimento global. O Emissions Gap Report 2019, que é apresentado esta terça-feira, em Genebra, na Suíça, deixa uma meta muito clara para que sejamos capazes de evitar que o aquecimento do planeta suba acima dos 1,5 graus Celsius: “As emissões globais de GEE devem chegar ao seu pico no imediato e cair 7,6% todos os anos entre 2020 e 2030.”

Isto porque a última década foi marcada pela incapacidade política em reduzir estas emissões. Na nota à imprensa que acompanha a divulgação do relatório, a directora executiva do PNUA, Inger Andersen, fala em “falhanço colectivo para actuar cedo e de forma assertiva sobre as alterações climáticas”. Os custos, segundo o relatório actual, são perfeitamente mensuráveis: “Se uma acção climática séria tivesse começado em 2010, os cortes exigidos por ano para alcançar os níveis de emissões projectados para [limitar o aumento da temperatura] a dois graus e a 1,5 graus, seriam de apenas 0,7% e 3,3% ao ano, em média. Contudo, uma vez que isto não aconteceu, os cortes exigidos em emissões estão agora em 2,7% ao ano, a partir de 2020, para a meta dos dois graus, e em cerca de 7,6% por ano, em média, para o objectivo de 1,5 graus. Evidentemente, quanto mais tempo se adiar a acção, maiores serão os cortes necessários”, refere-se no resumo do documento que foi previamente divulgado aos jornalistas.

Em termos de emissões de CO2, o PNUA afirma que para o mundo voltar “ao caminho certo” na luta contra o aumento de temperatura global, é necessário que, em 2030, as emissões de dióxido de carbono (CO2) diminuam em 15 gigatoneladas, para a meta dos dois graus, e em 32 gigatoneladas, para se alcançar o objectivo de manter o aquecimento global abaixo dos 1,5 graus. Estes valores significam, para os planos nacionais desenvolvidos pelos países – e tal como já se previa no relatório do ano passado –, que eles devem triplicar ou quintuplicar as suas ambições para cumprir as duas metas possíveis ao nível da temperatura. E o tempo para isso ser feito, insiste-se, é agora. Um “reforço dramático” destes planos “é necessário em 2020”, avisa-se no documento.

As mudanças são necessárias em todo o mundo, frisa Inger Andersen, alertando que “os países não podem simplesmente esperar pelo final de 2020, quando termina o prazo para os novos compromissos climáticos, para dar início à acção”. A directora executiva do PNUA  avisa que todos os países “e cada cidade, região, negócio ou indivíduo, têm de agir agora”. Até porque se alerta no relatório: “Dada a discrepância entre as decisões políticas e as reduções de emissões a elas associadas, esperar por 2025 para reforçar estes planos nacionais será demasiado tarde para fechar o grande fosso de emissões em 2030.”

O ritmo não será necessariamente o mesmo para todos e os países desenvolvidos têm de acelerar as suas reduções de emissões, em relação aos países em desenvolvimento. O relatório foca-se, sobretudo, nas acções dos membros do G20 que, colectivamente, “são responsáveis por 78% das emissões de GEE (incluindo o uso dos solos)”, o que significa que “determinam largamente as tendências das emissões globais e a extensão em que o fosso será fechado”.

E olhando para o G20 os resultados são díspares. Por um lado, a maior parte dos seus membros comprometeu-se, por exemplo, com objectivos de desflorestação zero, mas esse compromisso não é, “muitas vezes, apoiado por acções no terreno”. Também há cada vez mais países a comprometerem-se com emissões zero, mas nenhuma das estratégias apresentadas que se compromete com um prazo partiu de um membro do G20. Além disso, já data de 2009 o compromisso destes membros para terminaram com os subsídios aos combustíveis fósseis, mas nenhum deles se comprometeu ainda com o ano específico para o pôr em prática. O relatório conclui, por isso, que “acções reforçadas dos membros do G20 são essenciais”.

Apesar do cenário descrito pelos próprios autores do documento como “sombrio”, a sua convicção é que “as alterações climáticas ainda podem ser limitadas a [um aumento de temperatura de] 1,5 graus Celsius, uma vez que há mais opções e pressão para acção do que alguma vez existiu”. O esforço de “todas as nações do mundo” para que tal aconteça obrigará a profundas mudanças sociais e económicas – desde logo com a essencial descarbonização dos transportes e do fornecimento de energia – e obrigará a uma “mobilização maciça”. Felizmente, refere-se no relatório, há bons sinais para ter esperança: o trabalho já desenvolvido por alguns países pode ser usado e aperfeiçoado por outros (saltando assim algumas etapas, por não terem de partir do zero) e os benefícios do que o mundo poderá alcançar, com o combate às alterações climáticas, desde a redução da poluição do ar até a uma vida mais saudável, com mais biodiversidade e cidades mais habitáveis, são reconhecidos pela generalidade das pessoas.

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