A proteção social dos advogados exige um referendo com debate

O tema da Caixa de Previdência dos Advogados pode não estar ainda identificado como um problema por muitos advogados de hoje, mas ele é, objetivamente, uma bomba relógio que afetará todos nós a prazo.

Daqui a dias, entre 27 e 29, haverá eleições para a Ordem dos Advogados. A campanha mediática tem decorrido sobretudo em torno de fait divers e assuntos colaterais introduzidos por quatro dos candidatos, enquanto o bastonário, pairando acima da Advocacia, cumpre a agenda de pura representação e salamaleques.

Em vez de assuntos e problemas sérios que assolam a classe vêm a terreiro na comunicação social com matérias irrelevantes para os destinos da Advocacia, tais como quezílias internas, despiques e corridinhos, o habeas corpus, gravações e ausências em debates, a reforma e o vencimento do bastonário, e agora até uma auditoria ao voto electrónico que pela primeira vez será usado pela Ordem em acto eleitoral. Tudo números de circo sem interesse.

Assunto sério e relevante para a vida dos advogados, esse sim, é, por exemplo, o futuro da Caixa de Previdência dos Advogados (CPAS). Com a sustentabilidade questionada e em risco, as enormes dívidas em contribuições por cobrar, as contribuições caras que centenas ou milhares de advogados não conseguem pagar, o aumento brutal das contribuições previsto para Janeiro de 2019, a CPAS mais parece uma fonte de problemas e desequilíbrios do que uma caixa que deve providenciar paz social.

Como fundo privativo de pensões que é, não garante sequer a assistência na saúde e na doença, nem prestações sociais tais como assistência à família e maternidade. A CPAS é afinal quase inútil. Para as centenas de advogados que hoje auferem uma merecida pensão até essa está em causa. O tema CPAS pode, subjetivamente, não estar ainda identificado como um problema por muitos advogados de hoje, mas ele é objetivamente uma bomba relógio que afetará todos nós a prazo.

Daí que a candidata a bastonária Ana Luísa Lourenço tenha inscrito o tema a CPAS à cabeça das suas preocupações e propostas. É uma preocupação central porque é do seu funcionamento e capacidade de resposta assistencial que depende a tranquilidade social e pessoal dos advogados. Só advogados com equilíbrio familiar e social e inseridos como os demais cidadãos num sistema de proteção social full service podem cumprir a nobre função de representar e defender pessoas com direitos e fazê-los prevalecer.

Os mais velhos querem continuar a receber a pensão, as gerações seguintes querem garantir o acesso à pensão para a qual agora descontam, os jovens advogados querem poder pagar a contribuição e querem sobretudo que a CPAS lhes sirva de algo na vida.

É a resposta transversal a transgeracional ao problema do futuro da CPAS que pode sossegar de vez a classe nas suas diversas faixas etárias e matizes, aplacando conflitos e distensões que já estão à vista pelo menos desde a expressiva manifestação de advogados em Janeiro de 2018.

É por isso mesmo que a candidata Ana Luísa Lourenço inseriu no seu programa a realização de um amplo debate prévio seguido de um referendo aos advogados acerca do futuro e da restruturação da CPAS, incluindo a possível integração na Segurança Social. Teve a coragem de propor um referendo interno na classe, sendo que a justeza da proposta levou já dois dos candidatos a bastonários a aderir à ideia do referendo apanhando a sua boleia. Isso é positivo.

Mas também seria positivo que esses dois candidatos e os demais se deixassem de ódios e piruetas mediáticas e dissessem olhos nos olhos aos advogados ao que vêm em matéria da CPAS, sem tibiezas nem divagações tecnicistas. O candidato professor veio já recusar o referendo interno. Falta comparecerem os outros dois candidatos, por sinal ambos com funções aos comandos da Ordem.

Ana Luísa Lourenço, pela lista L, no seu modesto cantinho mas corajosa e determinada, já disse ao que vinha. Vem para mudar a Ordem, reposicioná-la, levá-la aos advogados que dela precisam, envolver a classe, pôr ordem na Ordem para que esse instrumento ajude a pôr justiça na Justiça.

É essa postura inovadora que faz diferente, em vez de medidas avulsas e desconexas, sem orientação estratégica. É uma nova ideia para a Ordem que põe a alternativa ao dispor dos advogados portugueses.

O autor escreve segundo o novo Acordo Ortográfico

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