Governo de Hong Kong pode declarar estado de emergência perante greves e protestos

Enquanto milhares de estudantes e trabalhadores ocupavam as ruas da megacidade, o governo diz estar a analisar quais as leis que pode usar. E imprensa oficial diz que “o fim está a chegar”.

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Concentração de estudantes na Universidade Chinesa de Hong Kong LUSA/LAUREL CHOR

No primeiro dia de uma greve geral de dois dias e de um boicote estudantil de duas semanas, o governo de Hong Kong anunciou esta segunda-feira que não afasta a possibilidade de declarar o estado de emergência no território para silenciar os protestos. A agência noticiosa oficial Xinhua garantiu que o “fim está a chegar” para os manifestantes pró-democracia. 

“Estamos a analisar exaustivamente e com uma atitude aberta quais as leis que podemos usar”, disse o número dois do governo, Mattew Cheung, depois de ser questionado pelos jornalistas se o estado de emergência está em cima da mesa. A chefe do governo, Carrie Lam, sinalizou que pode activar o estado de emergência para travar a maior crise política do território que deixou de ser colónia britânica há 22 anos. 

Depois do bloqueio do aeroporto internacional de Hong Kong pelos manifestantes em meados de Agosto, “o governo ficou cada vez mais desesperado” na procura de “meios legais” para combater os protestos, escreve o South China Morning Post citando fontes governamentais. Mais de uma dúzia de especialistas pró-Pequim na Lei Básica da região encontraram-se na Universidade de Tsinghua para procurarem uma forma legal de travar os protestos.

A pressão de Pequim não tem parado de aumentar sobre o executivo e, numa reunião à porta fechada com empresários, diz a Reuters, Lam ter-se-à mostrado arrependida por ter causado a crise política e admitido ter “capacidade limitada” para a resolver. “Se tivesse uma escolha, a primeira coisa que faria era demitir-me, depois de fazer uma grande pedido de desculpa”, disse Lam. 

Os protestos eclodiram com uma proposta de lei da extradição - que previa que suspeitos de crimes fossem enviados para a China Continental para julgamento - e depressa se generalizaram na oposição ao governo de Hong Kong e contra a influência de Pequim, acusada de violar o princípio “um país, dois sistemas”, acordado aquando da transferência de soberania do Reino Unido para a China, em 1997.

Lam está encurralada entre Pequim e os manifestantes e a pressão do Governo chinês não tem parado de aumentar - ora com pedidos da imprensa oficial chinesa para uma intervenção directa ora com ameaças, e esta segunda-feira houve mais uma. “O fim está a chegar para aqueles que tentam perturbar Hong Kong e antagonizar a China”, escreveu a Xinhua. 

Pequim tem tropas concentradas em Shenzhen, província fronteiriça com Hong Kong, e tem realizado exercícios antimotim, num sinal de que a intervenção militar é uma hipótese, ainda que os prejuízos para o regime chinês sejam muitos. 

Nenhum obstáculo os vai travar

Mas o risco não tem dissuadido os manifestantes e, esta segunda-feira, milhares de estudantes do ensino secundário e superior e trabalhadores voltaram às ruas da megacidade. Os estudantes do superior organizaram um comício na Universidade Chinesa de Hong Kong que contou com 30 mil participantes, de acordo com o presidente da Associação de Estudantes da instituição, Jacky So Tsun-fung. Reafirmaram as suas exigências, entre elas o fim definitivo da lei de extradição e o sufrágio universal nas eleições para escolher a chefe do governo e o parlamento, e avisaram que se o executivo não ceder vão organizar mais protestos.

“Que sejam balas, que seja o terror branco, que seja um regime totalitário, independentemente dos obstáculos no nosso caminho, não serão suficientes para quebrarem a nossa determinação”, afirmaram os estudantes em comunicado. “Libertem Hong Kong, a Revolução do nosso tempo”, gritaram os estudantes.

Horas antes, alunos do secundário organizaram um outro comício, no distrito Central, com cerca de quatro mil pessoas, segundo os organizadores ao South China Morning Post. “Viemos aqui no primeiro dia de aulas por querermos mostrar que não vamos parar o movimento simplesmente por termos aulas”, disse Alice, aluna de secundário, ao jornal de Hong Kong. “Os estudantes vão apoiar os outros manifestantes”.

A cidade esteve paralisada com a greve geral que teve a adesão de 29 sectores, disse Carol Ng Man-yee, presidente da Confederação dos Sindicatos. Uma rua próxima do Almirantado (onde se concentram os edifícios governamentais e onde se juntaram 40 mil pessoas) foi bloqueada e os ânimos subiram de tom.

Tensão com a polícia aumenta

Pressionados pela polícia, os manifestantes abandonaram a estrada e, em desafio, dirigiram-se para a esquadra da polícia de Mong Kok gritando palavras de ordem contra as autoridades e a violência policial – mais de 900 pessoas foram detidas desde o início dos protestos, em Junho, e no sábado pelo menos 41 pessoas foram hospitalizadas, 11 com ferimentos graves. O passado fim-de-semana ficou marcado pelos mais duros confrontos entre manifestantes e a polícia nos mais de três meses de contestação. 

As imagens de polícias antimotins e de elementos dos Raptors, a unidade de elite da polícia de choque, a agredirem no sábado manifestantes na estação de comboio Prince Edward escalou os ânimos. Os manifestantes ficaram encurralados na estação e a maioria não agiu violentamente, segundo mostram os vídeos publicados pelo South China Morning Post, mas a polícia carregou sobre eles com bastonadas e gás pimenta, detendo alguns.

Os manifestantes em Mong Kok bloquearam o cruzamento nas proximidades da esquadra e atiraram ovos e apontaram lasers à esquadra, com a polícia a disparar gás lacrimogéneo. “Se ardermos, vão arder connosco”, gritaram os manifestantes antes dos disparos.

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