“Se Xi tiver de usar força, vai fazê-lo, mas a probabilidade é muito baixa”

Três pontos sobre a situação em Hong Kong abordados por Jerome Cohen, especialista em Ásia do centro de estudos norte-americano Council on Foreign Relations.

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Manifestante com um poster durante a manifestação deste domingo VIVEK PRAKASH/EPA
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Manifestação em Hong Kong a favor da acção da polícia e do Governo de Pequim Thomas Peter/REUTERS

Pequim está a usar uma estratégia de desgaste para evitar uma intervenção que manche o prestígio da China que o seu líder, Xi Jinping, quer mostrar numa altura de comemorações: a 1 de Outubro, assinalam-se os 70 anos da fundação da República Popular da China e em 2020 o centenário do Partido Comunista Chinês, disse Jerome Cohen numa conferência para jornalistas organizada pelo Council on Foreign Relations. Para o especialista, um caminho de saída era se líderes não políticos de Hong Kong avançassem para uma solução criativa.

A hipótese de força militar

Xi Jinping é um líder duro. Sabe os perigos de repetir um massacre tipo Tiananmen. Não quer fazer isso, seria um desastre para si, para a sua liderança, para o seu povo, e para a segurança internacional de Hong Kong. Mas se for mesmo obrigado a isso, irá usar a força.

Mas não o quer fazer, e com a aproximação do aniversário da fundação da República Popular da China, a 1 de Outubro, e o centésimo aniversário do nascimento do partido em 2020, ele quer mostrar prestígio.

Se houver uma provocação vista como suficientemente grande, [o regime chinês] irá usar a força antes de 1 de Outubro, mas as probabilidades são muito baixas. E há possibilidades intermédias de aumentar a influência de Pequim em Hong Kong mesmo através de métodos menos dramáticos.

A estratégia da China

O que a China está a fazer é uma estratégia de desgaste. Estão a tentar fazer o que fizeram, com sucesso, com a revolução dos guarda-chuvas de 2014. Espera-se que passe. Minimiza-se os efeitos nas funções públicas. Tenta-se desgastar a oposição. Mobiliza-se apoio público dando um retrato adverso dos motivos do protesto. Isso funcionou antes, e é a única fórmula que têm agora.

Mas estes manifestantes são diferentes dos de 2014. Alguns deles acreditam que, como disse o Presidente Mao [Tsé-Tung], para uma revolução é inevitável haver violência. A maioria gostaria de ter um protesto pacífico, tipo-Gandhi, ordeiro, pacífico, não violento. Seria mais impressionante se tivessem conseguido mantê-lo, como começaram, no aeroporto. Mas as coisas tendem a descontrolar-se, como na maioria dos protestos. E o que não sabemos é como vai tudo isto terminar.

O que poderá ser uma saída

O que é preciso é que líderes populares, não responsáveis do governo, mas pessoas respeitadas em Hong Kong, da comunidade empresarial, política, de direitos humanos, educação, tomem o destino nas suas mãos e formem um grupo, e comecem negociações, façam recomendações. Esta comunidade está como um veado ofuscado por faróis, paralisada. Estão com medo de perder vantagens ao lidar com o governo de Hong Kong. Mas qual é o risco de não fazerem nada?

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