Tropas chinesas concentram-se na fronteira de Hong Kong

Media chineses apelam à intervenção do exército de Pequim para controlar os protestos, que já vão em dez semanas.

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Imagens de satélite mostram o que parecem ser veículos militares dentro do Centro Desportivo da Baía de Shenzhen Maxar Technologies/REUTERS
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Manifestantes no Aeroporto de Hong Kong Thomas Peter/REUTERS

Imagens de satélite difundidas esta quarta-feira mostram veículos do exército e da polícia da China reunidos em Shenzhen, cidade que faz fronteira com Hong Kong, que há dois meses é palco de protestos contra o executivo local. O próprio Presidente norte-americano Donald Trump tweetou o alerta de que havia tropas chinesas a aproximarem-se da fronteira e apelou à calma.

As imagens, difundidas pela Maxar Technologies, mostram veículos militares e de segurança estacionados no Centro Desportivo da Baía de Shenzhen, na fronteira com Hong Kong.

Um comunicado da polícia chinesa informou que mais de 12 mil policias estão em Shenzhen para exercícios antimotim. Os exercícios são parte dos preparativos de segurança para o 70.º aniversário da República Popular da China, em Outubro. “O exercício será realizado para aumentar o moral das tropas, praticar e preparar a segurança das celebrações e manter a segurança política nacional e a estabilidade social”, disse a polícia.

A imprensa oficial chinesa faz apelos à intervenção das autoridades de Pequim em Hong Kong. O Diário do Povo, diário do Partido Comunista Chinês, escreve num editorial na primeira página que “usar a espada da lei para travar a violência e restaurar a ordem é a tarefa mais urgente e mais importante para Hong Kong!”, relata a Reuters. Outro comentário, publicado pelo mesmo jornal, e assinado por professor da Universidade de Shenzen, afirma que o Governo de Pequim deve lidar com as questões de Hong Kong de forma mais “decisiva”.

Nos últimos tempos, tem havido uma intensa campanha mediática relativa aos protestos em Hong Kong junto da opinião pública chinesa, relata a agência Lusa. Repetem-se os apelos, através das redes sociais, para uma intervenção das Forças Armadas chinesas no território.

Inicialmente, as autoridades de Pequim censuraram a circulação de informação sobre os protestos, que decorrem há dez semanas. Mas, nos últimos dias, optaram por tentar moldar a sua imagem. Caracterizam-nos como como tumultos violentos, perpetuados por mercenários pagos por forças externas. Esta quarta-feira, o gabinete de ligação à China em Hong Kong disse mesmo que “não são melhores que terroristas”.

Críticas aos manifestantes e demonstrações de apoio a uma intervenção do exército são hoje quase o único tópico partilhado por utilizadores do Wechat, a principal rede social da China. Facebook, Twitter ou Instagram estão banidos da rede chinesa, a maior do mundo, com cerca de 710 milhões de utilizadores

Durante a madrugada, os manifestantes envolveram-se em confrontos com a polícia no aeroporto de Hong Kong, onde os voos foram cancelados pelo segundo dia consecutivo (foram retomados esta manhã). Identificaram e expulsaram o que disseram ser polícias infiltrados, fazendo-se passar por manifestantes. E também um jornalista que disseram ser um “falso jornalista” – mas que seria um verdadeiro jornalista, do tablóide de Pequim Global Times, como atestou o seu director.

Fu Guohao, o repórter expulso pelos manifestantes, transformou-se num herói instantâneo nas redes sociais. “Ele é um homem verdadeiro, a pátria e os cidadãos vão lembrar-se dele”, disse um utilizador no Wechat, nos comentários de um vídeo que o mostra a ser expulso do aeroporto, colocado online pelo Global Times. “É um verdadeiro herói!”, dizia outro, relata a Reuters.

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