O Twitter foi uma arma para Costa e Rio

O primeiro-ministro foi mais activo e tentou mostrar que o Governo controlou os danos da greve desde o primeiro ao último minuto. O presidente do PSD, de férias, foi menos participativo mas teve sempre as baterias apontadas a Costa.

Foto
Reuters/© Dado Ruvic / Reuters

O Twitter foi uma das armas usadas por António Costa e Rui Rio durante a greve dos camionistas de matérias perigosas, mas a forma como usaram a rede social foi muito diferente. Costa fê-lo como um complemento à sua presença constante no terreno, fazendo controlo de danos e tentando mostrar que o Governo estava activo, atento e a comandar as operações. Rio, de férias, foi menos activo, mas mostrou-se igualmente atento e tentou sempre atingir o Governo.

Entre o dia 10 deste mês e ontem, o primeiro-ministro fez 24 publicações na sua conta oficial Twitter. Destas, 21 foram sobre o protesto dos motoristas. Costa começou por abordar o tema no dia 10, dois dias antes da paralisação ter início, numa mensagem dirigida aos portugueses e desde logo para assegurar que o governo estava preparado.

“Hoje, em reunião extraordinária da coordenação política do @govpt, avaliámos os possíveis impactos da anunciada greve dos motoristas de matérias perigosas. Garanto aos portugueses que o @govpt tomou todas as medidas, legais e operacionais, para minorar os efeitos da greve”, afirmou na altura.

No dia seguinte, um dia antes greve começar, Costa faz três publicações. As duas primeiras mais uma vez para assegurar que o Governo estava atento, a receber informações de várias entidades, confiante nas instituições e a avaliar “os preparativos de resposta à greve dos motoristas”.

O terceiro texto era desde logo um aviso aos grevistas: “O País tem que ter a noção de que os serviços mínimos podem mitigar, mas não eliminam os efeitos da greve. É nesse sentido que posso garantir que o @govpt está preparado para decretar a requisição civil em caso de incumprimento dos serviços mínimos.”

Já com a greve em curso Costa utilizou a sua conta @antoniocostapm para passar a mensagem que tinha tudo sob controlo. No dia 15 deu um particular destaque ao acordo entre a Fectrans (Federação dos Sindicatos dos Transportes e Comunicações) e a Antran (Associação Nacional de Transportes Públicos Rodoviários de Mercadorias) em matéria salarial.

Costa não só se congratulou com acordo como o usou para tentar chamar os grevistas à mesa das negociações com os patrões: “(…) Conciliou-se o respeito pelos direitos dos trabalhadores e os interesses das empresas, possibilitando negociar sem confrontação. Que seja um exemplo seguido por outros.”

Domingo ao fim da tarde, quando os motoristas desconvocaram a greve dando início a um processo de negociação, Costa passou à fase de congratulação e de agradecimento a todas as entidades que contribuíram “para minimizar os impactos da greve, no funcionamento dos serviços essenciais e na economia”.

Ao longo de cinco textos, o primeiro-ministro ainda saudou “o elevado civismo com que os portugueses viveram esta semana difícil”, a “forma pacífica e sem qualquer violência como foram conduzidas todas as manifestações” e deixou “uma palavra de reconhecimento a todos os colegas do @govpt pelo seu permanente empenho, sempre articulado e elevado espírito de equipa”. Não reclamou vitória para si ou para o Governo, mas isso estava implícito em quase todas as suas palavras.

Já Rui Rio foi mais comedido que Costa no número de publicações, mas mais acutilante. Em 12 dias publicou dez textos na conta @RuiRioPSD todos relativos à greve.

O presidente do PSD começou a abordar o assunto logo no dia 8, com um  retweet (destaque) a um texto publicado na conta PSD que citava o vice-presidente David Justino: “O #PSD secunda a iniciativa do Governo em mediar o conflito e em garantir o funcionamento dos serviços indispensáveis, mas estranha a forma excessiva como se tem exposto perante a opinião pública.”

Rio voltou ao tema no dia 10 já com críticas ao Governo: “Se o objectivo fosse tentar resolver o problema, o Governo era mais isento e mais discreto. Não dramatizava, nem encenava um circo como o que montou antes das europeias. Adiar a greve para pós eleições e, até lá, tentar um acordo, parece-me o mais sensato.”

Dois dias depois regressava em tom irónico mas igualmente crítico para com o executivo de Costa: “Ensinam-nos aqui que a greve dos motoristas só pode ser suspensa ou adiada pelos seus sindicatos que é quem a decreta. Que bom aprender com quem tanto sabe. E eu a pensar que os governos é que decretavam as greves. Aprende-se tanto aqui no Twitter. É quase uma Universidade.”

E assim continuou até ontem. Voltou a apontar baterias ao Governo, mas os comentadores também levaram por tabela. E, de caminho, associou a acção política do PSD à sua actividade na rede social. “A greve começou no dia 12/8. O PSD falou no dia 8 e no dia 10. Voltou a exprimir-se no dia 14 e no dia 16. Segundo alguns profissionais do comentário, o PSD perdeu ‘esta coisa’ porque falou pouco e tarde. O Governo terá ganho porque falou por 7 (ou 8) cotovelos, 25 horas por dia”, afirmou.

Sugerir correcção
Comentar