Liubov Sobol, a advogada anticorrupção que não tem medo de Putin

Faz parte do grupo de 60 candidatos que não puderam concorrer às eleições autárquicas russas. Liubov Sobol é uma das principais opositoras de Putin. A advogada de 31 anos fez greve de fome durante mais de um mês e usa o telemóvel como arma. “O que mudou é que já não temos medo”, diz.

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Tatyana Makeyeva/Reuters

Liubov Sobol esteve mais de um mês em greve de fome. A advogada russa de 31 anos foi, à semelhança de 60 outros candidatos, impedida de concorrer às eleições autárquicas de Moscovo — em protesto, começou, a 13 de Julho, uma greve de fome que durou até esta quinta-feira, 15 de Agosto. Membro da Fundação Anticorrupção russa, Sobol é aliada de Alexei Navalny, o principal opositor de Vladimir Putin, que em 2016 chegou a anunciar que se iria candidatar às presidenciais de Março de 2018.

Em pouco mais de duas semanas, Sobol já foi detida três vezes. A última, a Agosto, foi transmitida em directo no Twitter. O vídeo, gravado pela própria, mostra a polícia a entrar no seu escritório. “Tenho a polícia aqui, agora mesmo. Não posso ir à manifestação. Quero dizer que não tenho medo e não vou desistir. Vou continuar com as minhas actividades políticas”, diz a advogada, enquanto a polícia arromba a porta. “Tenho a certeza de que as pessoas que vão à manifestação vão fazer-se ouvir e apoiar-me a mim e a todos os que estão presos por motivos ilegais.” Sobol foi libertada algumas horas depois.

A manifestação a que Sobol se refere aconteceu no mesmo dia em que o vídeo foi transmitido: o quarto protesto numa série de manifestações que têm acontecido todos os fins-de-semana. Milhares de pessoas têm saído à rua para denunciar a exclusão de candidatos independentes nas eleições autárquicas e exigir eleições livres. O protesto de 10 de Agosto terá reunido cerca de 60 mil pessoas, de acordo com a organização não-governamental Contador Branco, mas, segundo a polícia, russa terão sido apenas 20 mil. Mais de 300 pessoas terão sido detidas nesta manifestação. 

Quase todos os líderes da oposição estão presos. Sobol tem sido libertada após as detenções, por ser mãe de uma menina de cinco anos: a lei prevê que mães de crianças com menos de 14 anos não sejam condenadas a prisão por questões administrativas. Alexei Navany, quem convocou os protestos, foi condenado a um mês de prisão pouco antes do primeiro se realizar — na prisão, sofreu uma “reacção alérgica grave”, que os seus advogados dizem ter sido na verdade uma tentativa de envenenamento. Ainda assim, as manifestações aconteceram, e continuam a acontecer, com milhares a gritar Liubov (em português, “amor”) como palavra de ordem.

Na sua página oficial, Sobol diz querer ir às urnas para “falar contra a corrupção e as mentiras”. O programa da advogada prevê maiores gastos com a medicina e educação, bem como o “fim da censura nos meios de comunicação e ‘listas negras’ na televisão”.

“Nestes últimos dias, vi jovens com sangue nas esquadras a sorrir. O que mudou é que já não temos medo”, disse a advogada ao Le Monde. E também ela mostra não ter medo: Sobol usa o telemóvel como principal meio para se fazer ouvir e mantém-no levantado até quando está a ser arrastada pela polícia. Num vídeo partilhado por si, é possível ver a polícia a arrastar um sofá onde está sentada, enquanto filma a detenção. E normalmente faz-se acompanhar por um operador de câmara, para não deixar nada por registar. 

Ainda durante o período de greve de fome, Sobol atirou duras palavras a Valery Gorbunov, o responsável pela Comissão Eleitoral de Moscovo: “É um falsificador e agora o país inteiro sabe disso. A sua reputação, tal como a do presidente da câmara, está morta e enterrada. Acabou de cuspir na opinião de milhões de moscovitas, mas o senhor e a sua turma têm medo de pessoas como nós, candidatos independentes”, afirmou, segundo o Le Monde

E continuou: “Vocês são covardes, falsários, ladrões e trapaceiros. Todo o país o conhece agora. Todos sabem que tem uma casa na Croácia e o seu salário oficial não permite que faça tal compra. Não podemos fazer justiça no tribunal, não podemos fazer justiça aqui, mas tenho a certeza que, mais cedo ou mais tarde, conseguiremos. Porque, ao contrário de si, não gostamos da Croácia, mas amamos Moscovo, amamos a Rússia.”

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