Equipa portuguesa descobre mecanismo para formar vírus da gripe A

O novo estudo do Instituto Gulbenkian de Ciência contribui para o desenvolvimento de tratamentos capazes de evitar, prevenir e combater as estirpes do vírus da gripe que surgem todos os anos.

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Equipa coordenada por Maria João Amorim do Instituto Gulbenkian de Ciência Créditos: Sílvia Vale-Costa e Ana Laura Sousa.

Um novo estudo da equipa da investigadora Maria João Amorim, do Instituto Gulbenkian de Ciência, revela onde se montam os genomas do vírus da gripe A dentro das células infectadas. Os resultados, que vão ser publicadas esta semana na revista Nature Communications, podem contribuir para tratamentos que evitem, previnam ou combatam novas estirpes do vírus da gripe. “Os nossos resultados abrem caminho a terapias alternativas que ataquem a formação do genoma, ou o local onde o genoma é formado”, diz Maria João Amorim.

O vírus da gripe A é conhecido por formar novos subtipos todos os anos. Em 2010, a gripe A foi identificada como predominante em Portugal pelo Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA) e este ano já se verificou a circulação de dois subtipos do vírus. Os diferentes subtipos do vírus da gripe A resultam de pequenas variações que acontecem ao nível do código genético, que fazem com que o vírus se torne diferente o suficiente para deixar de ser reconhecido pelo sistema imunitário.

Por outro lado, o vírus da gripe A só se consegue multiplicar dentro das células do organismo que infectou – uma vez que necessita de utilizar a maquinaria celular do respectivo organismo. Quando ocorre a infecção, o vírus entra para dentro da célula e liberta o seu material genético – além de algumas proteínas. Contudo, este vírus têm uma particularidade ímpar: o seu genoma está segmentado em oito partes distintas. Isto é, durante a multiplicação do vírus, as oito partes do material genético são replicadas muitas vezes. A formação de novos vírus requer que esses oito segmentos sejam agrupados dentro de uma mesma partícula viral, o que implica uma selecção minuciosa a partir de milhares de moléculas que se encontram misturadas.

O estudo da equipa de Maria João Amorim revela que a selecção do material genético se faz em compartimentos designados inclusões virais – até então, desconhecia-se onde é que esta selecção era feita. É também revelado que as inclusões virais separam-se do meio que os rodeia por um processo designado por separação de fases, “semelhante ao que acontece com o vinagre e azeite quando colocados juntos”, explica o comunicado de imprensa do Instituto Gulbenkian de Ciência. Por consequência, os segmentos de material genético do vírus são segregados e confinados a um espaço pequeno onde é mais fácil formar o genoma.

Segundo a investigadora do Instituto Gulbenkian de Ciência, este trabalho é “inovador” precisamente porque é uma das “observações iniciais que demonstra que as infecções virais recorrem a processos de separação de fases.”

As alterações no processo da separação de fases são profundamente estudadas e podem ser causa mas também consequência de muitas doenças, nomeadamente do foro neurológico.

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