Fazer a EN2 de bicicleta para plantar árvores

Três amigos vão percorrer a EN2 de bicicleta. Pelo caminho, vão parar para plantar árvores como forma de consciencializar o país para a necessidade de reflorestar as zonas afectadas pelos incêndios.

Foto
Manuel Garcia, Simão Fernandes e Filipe Miranda DR

Diz a música que de Bragança a Lisboa são nove horas de distância, mas de Chaves a Faro serão 120 horas de distância, distribuídas pelos 738 quilómetros da Estrada Nacional 2 (EN2). É este o percurso que um grupo de amigos vai fazer de bicicleta. E tudo por uma boa causa. Manuel Garcia, Simão Fernandes e Filipe Miranda vão plantar árvores ao longo do trajecto, como meio de chamar a atenção para a necessidade de reflorestar as zonas afectadas pelos incêndios de 2017.

“O objectivo é, de forma humilde e simbólica, incentivarmos a reflexão sobre o interior e a floresta”, explica Manuel, confessando, que depois dos dramáticos incêndios de 2017, os três amigos, amantes de desporto, sentiram a necessidade de fazer alguma coisa.

Foi assim que nasceu o Plantar Portugal em Bicicleta, que vai ser dividido em cinco etapas, cada uma delas com direito a paragens e novas árvores nas zonas de Castro Daire (Viseu), Castanheira de Pêra — o município mais afectado pelos incêndios — (Leiria), Vila de Rei, (Castelo Branco) e São Brás de Alportel (Faro).

Foto
Enric Vives-Rubio

Os locais exactos para a reflorestação foram acertados com os respectivos municípios, que logo se disponibilizaram para providenciar toda a logística necessária. “Ficamos muito impressionados com a receptividade dos municípios porque a partir do momento em que apresentamos o projecto todos se oferecerem para fornecer as árvores e as ferramentas no terreno”, revela, referindo que o objectivo é plantar árvores endógenas da cada região. “Estamos à espera de encontrar muita área de eucaliptos, o que foi parte da motivação para incentivar a florestação com árvores nativas.”

Ao longo do percurso vão ser acompanhados por uma autocaravana para carregar todo o equipamento que precisam e que será também “local de residência”. Na bagagem levam material de fotografia e vídeo para retratarem a viagem. “Eu sou motion designer e o Filipe é cineasta [Simão é engenheiro informático], por isso gostaríamos de realizar um documentário”, revela Manuel. “Vamos mesmo dormir na estrada, como se fôssemos uma banda de rock”, diz Manuel entre risos.

Uma banda de rock, mas sem excessos. Estão desde a semana passada a cumprir um plano nutricional que prevê que cada um beba sete litros de água, entre outros requisitos. É a forma de se preparem fisicamente para uma experiência que, esperam, seja também “cultural”. “Esperamos interagir e ter um contacto muito próximo com as pessoas e com o ambiente, queremos viver um registo de um Portugal de outros tempos”, assume, afirmando que a viagem também pretende valorizar o interior e a própria EN2 — “a estrada mais longa em Portugal e uma das mais longas estradas históricas da Europa”. “O mote foi a reflorestação, mas pretendemos falar de zonas que são quase sempre esquecidas e de uma estrada que deveria ter mais reconhecimento”, afirma.

Depois do anúncio da iniciativa, já foram contactados por várias pessoas a pedir uma segunda edição. “Vieram falar connosco a perguntar se vamos fazer este tipo de projectos mais vezes, da próxima querem vir connosco.” 

Esta quinta-feira, 4 de Outubro, às 7h30, os três amigos fazem-se à estrada. “Queremos aproveitar a fresca da manhã”, assume Manuel. A chegada está prevista para domingo.

Sugerir correcção
Comentar