Amazon criticada por vender tecnologia de reconhecimento facial a autoridades

Grupos de direitos civis vêem o serviço como uma ferramenta de vigilância governamental. Há sistemas a funcionar na China e na Rússia há anos.

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Na China, a tecnologia junta-se a um sistema de pontuação social dos cidadãos China Stringer Network

A Amazon está a ser criticada por vários grupos de direitos civis, nos EUA, por vender serviços de reconhecimento facial à polícia norte-americana nos estados da Florida e do Oregon. A preocupação é que a tecnologia seja utilizada para vigiar as populações de forma semelhante ao que acontece em Estados autoritários, em vez de aumentar a segurança.

A empresa, porém, defende o lançamento do sistema de videovigilância Amazon Rekognition, em uso desde 2016, ao dizer que é muito utilizado para encontrar pessoas e crianças desaparecidas, e para gerir a entrada em grandes eventos. A tecnologia depende de algoritmos capazes de analisar milhões de imagens diariamente para identificar pessoas, objectos e expressões textuais. Recentemente, o sistema foi usado no casamento real britânico entre o príncipe Harry e Meghan Markle, para confirmar a identidade dos convidados que chegavam. E, no Oregon, a tecnologia está a ser utilizada para identificar possíveis suspeitos a partir de fotografias de antigos prisioneiros.

“A nossa qualidade de vida seria muito pior, se proibíssemos novas tecnologias, porque há pessoas que podem escolher abusar dessa tecnologia”, lê-se num comunicado da Amazon. “Como com qualquer serviço da Amazon, exigimos que os nossos clientes respeitem a lei.”

A União Americana pelas Liberdades Civis, uma organização não governamental nos EUA, não se convence e começou uma petição para impedir a venda do serviço. “A tecnologia de reconhecimento artificial não é neutra, independentemente daquilo que a Amazon possa dizer”, lê-se no texto que acompanha a petição. “Estes serviços automatizam a vigilância em massa e ameaçam a vida privada das pessoas fora do olhar do governo.”

Nos últimos anos, serviços do género têm-se tornado populares em alguns países autoritários. Desde 2016 que a cidade de Moscovo, na Rússia, está equipada com 140 mil câmaras com tecnologia de reconhecimento facial para encontrar criminosos e pessoas desaparecidas. A grande maioria, porém, fica à entrada de edifícios.

Na China, por outro lado, alguns polícias já andam equipados com óculos de realidade aumentada, que lhes permitem identificar as pessoas com quem se cruzam e fazer várias detenções. A tecnologia de reconhecimento facial junta-se a um sistema de pontuação social (ainda em fase de testes) em que as pessoas recebem pontos conforme o seu comportamento. O valor pode determinar o acesso ao emprego, o preço dos produtos, o lugar num comboio e até a pessoa para namorar (através de uma parceria com um serviço de encontros) ou a escola onde os filhos estudam.

A tecnologia, porém, não funciona sempre bem e depende de vários factores, como a quantidade de luz, condições atmosféricas e qualidade das imagens captadas. No Reino Unido, mais de 2000 pessoas foram erradamente identificadas como possíveis criminosos num teste realizado na final da Liga dos Campeões de 2017, em Gales. A polícia atribuiu o erro de mais de 90% à má qualidade das imagens fornecidas, mas reforça que ninguém foi detido injustamente. Matt Jukes, chefe da força policial, garantiu que só são feitas detenções quando a identificação é confirmada por um humano. “Todos podem ficar tranquilos, porque não vamos simplesmente usar este recurso e agir em força contra as pessoas”, disse Jukes.

Nos EUA, mais de 21 mil pessoas já assinaram a petição da União Americana pelas Liberdades Civis contra Amazon. Para a organização, serviços de reconhecimento facial “aumentam a possibilidade de grupos definidos como suspeitos por governos – como imigrantes ilegais e activistas negros – sejam vistos como alvos pelo sistema Rekognition”.

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