Tecnologia de reconhecimento facial identifica erradamente milhares como potenciais criminosos

Polícia galesa recorreu a esta tecnologia pela primeira vez para avaliar a multidão que se reuniu em Cardiff para a final da Liga dos Campeões de 2017. Mas o seu uso não é consensual.

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Adeptos da Juventus na final da Liga dos Campeões de 2017, que o Real Madrid venceu Reuters

Mais de 2000 pessoas foram erradamente identificadas como possíveis criminosas pela tecnologia de reconhecimento facial usada na final da Liga dos Campeões de 2017, em Cardiff, noticiaram a BBC e a Press Association britânica.

A polícia de South Wales começou a testar o software de reconhecimento facial automático (AFR), em que os rostos de uma multidão são analisados e comparados com um banco de imagens de suspeitos, em Junho do ano passado. Foi a primeira força policial no Reino Unido a fazer uma detenção usando aquela tecnologia em tempo real, nos dias que antecederam a final europeia.

Quando 170.000 pessoas chegaram à capital galesa para o jogo de futebol entre o Real Madrid e a Juventus, disputada a 4 de Junho, foram identificadas 2470 possíveis coincidências entre os rostos da multidão e o banco de imagens. No entanto, de acordo com dados do site daquela polícia, 92% (2297) deles foram considerados “falsos positivos”. O chefe da mesma força policial, Matt Jukes, garante no entanto que ninguém foi preso injustamente.

“Sabemos que os nossos grandes eventos desportivos e os nossos espaços lotados são potenciais alvos terroristas, isso é uma realidade”, disse Jukes à BBC Wales. “Por isso, precisamos usar a tecnologia quando tivermos multidões com dezenas de milhares de pessoas para proteger toda a gente, e estamos a alcançar óptimos resultados com isso”, justificou.

A polícia atribuiu o elevado número de falsos positivos na final de Cardiff às “imagens de baixa qualidade” que lhe foram fornecidas, incluindo pela UEFA e pela Interpol, além do facto de ter sido a primeira grande implantação da tecnologia.

A precisão do reconhecimento facial melhorou desde a final da Liga dos Campeões e subiu para 28% em média. No concerto de Liam Gallagher em Cardiff, em Dezembro, as seis identificações feitas pela polícia através da AFR foram validadas. Nos últimos nove meses, aquela polícia efectuou já 450 detenções usando este software, que verifica faces comparando-as a cerca de 500.000 imagens de suspeitos. A tecnologia também ajudou a condenar duas pessoas por roubo, uma a seis anos de prisão e outra a quatro anos e meio.

Jukes disse à BBC que o reconhecimento facial no País de Gales foi vital em eventos com muita gente para proteger as pessoas devido à ameaça do terrorismo e que se tem tornado cada vez mais preciso devido aos avanços da tecnologia. E garantiu que os agentes só efectuam uma detenção quando a identificação é confirmada. “Todos podem ficar tranquilos, porque não vamos simplesmente usar este recurso e agir com força contra as pessoas”.

No entanto, o grupo de defesa das liberdades civis Big Brother Watch pediu que o sistema seja descartado, considerando “ultrajante” que mais de duas mil pessoas tenham sido erradamente identificadas. “Não é apenas o reconhecimento facial em tempo real uma ameaça às liberdades civis, é uma ferramenta de policiamento perigosamente imprecisa”, disse o director desta organização, Silkie Carlo. “A tecnologia identifica erradamente pessoas inocentes a uma taxa assustadora, levando a intervenções intrusivas da polícia e a tratar cidadãos como suspeitos”, frisou.

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