“Será o PSD que terá de estender a mão [ao PS]”, afirma Carlos César

Líder parlamentar socialista foi a Belém dizer que cabe ao Partido Social Democrata mostrar-se “mais construtivo e mais disponível para o diálogo”, mas é com os parceiros à esquerda que conta para o próximo Orçamento do Estado. À esquerda, ninguém quis falar do PSD.

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Carlos César com o Presidente da República Manuel de Almeida/Lusa
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Manuel de Almeida/Lusa

“Diálogo é connosco.” A mensagem do PS após a audiência de ontem com o Presidente da República não podia ser mais clara: os socialistas estão disponíveis para trabalhar com todos os partidos, mas sem se desviar das suas posições e do programa do Governo. Antes do início do congresso do PSD, o líder parlamentar socialista deixou um recado explícito à nova liderança: “Se o PSD quiser reconhecer o bom resultado da governação, será o PSD que terá de estender a mão.”

Ao contrário dos outros líderes partidários da esquerda, Carlos César não se fez rogado nos comentários ao que pode ser o novo ciclo político depois da tomada de posse de Rui Rio como líder do maior partido da oposição: “Se o PSD for mais construtivo e mais disponível para o diálogo, tanto melhor. Mas se for o mesmo PSD errático, alérgico à construção de consensos, continuaremos este caminho que tem dado excelentes resultados.”

“Não estamos à procura de aliados, mas ficamos sempre felizes por ter mais interlocutores.” “Estamos bem com os nossos parceiros e é com eles que queremos trabalhar em primeiro lugar.” Estas foram frases  que repetiu em Belém. “Se os outros partidos se disponibilizarem para trabalhar connosco [não serão os socialistas a fechar portas]”, ressalvou.

Ainda assim, também garantiu que é com os partidos que apoiam o Governo, BE, PCP e PEV, que o PS conta para a aprovação do último Orçamento do Estado da legislatura. No dossier quente da legislação laboral Carlos César reconheceu a “tensão política” com a esquerda, mas garantiu que “não constitui um perigo para a estabilidade política”. “O PS e o Governo estão a ponderar a intensidade dessas alterações, mas os partidos à esquerda conhecem as nossas posições e o programa do Governo”, afirmou.

Mas também aqui afirmou o PS como um partido-charneira que tem de levar em conta as várias opiniões, sublinhando que “à direita são defendidas maiores restrições [à alteração das leis] e há quem defenda que a contratação a termo deve ser a regra”. E a preocupação socialista, além de cumprir o seu programa, é a “estabilidade social e económica” — porque a estabilidade política dá-a por garantida.

Carlos César começou por afirmar que tinha levado ao Presidente da República “um conjunto de situações que são motivo de satisfação, mas também as dificuldades” da governação. Tal como fizera a coordenadora do Bloco de Esquerda momentos antes, enalteceu o crescimento da economia e a redução do desemprego, atribuindo-os às políticas seguidas. Mas quis também falar dos constrangimentos dos serviços públicos, prioridades apresentadas em Belém pelo CDS, PCP e PEV. Porém, descartou responsabilidades directas, ao dizer que foi o Governo anterior que “retirou milhares de milhões de euros à Saúde, à Educação, à Defesa, à Justiça” que hoje é difícil recuperar.

BE quer aumentos no privado

Antes, a delegação do BE tinha deixado Belém sem uma palavra sobre a nova liderança do PSD e as consequências que a abertura dos sociais--democratas a acordos com o PS podem ter na mudança de estratégia do Bloco. Catarina Martins preferiu apontar para os sucessos da actual solução governativa e o caminho que há a fazer até ao fim da legislatura.

“O país está hoje melhor porque foi possível fazer acordos [à esquerda] em 2015”, afirmou. Na sua óptica, o crescimento económico e a redução do desemprego só foram possíveis graças à reposição de rendimentos e pensões constantes nos acordos assinados com a esquerda: “É indesmentível que o reforço da procura interna tem puxado pela economia e permitido um crescimento económico sustentado e, com isso, criação de emprego. Mas agora o crescimento económico tem de se transformar em mais salários e mais pensões”, vincou.

Foi esta a prioridade repetida várias vezes aos jornalistas, mesmo quando as perguntas eram sobre as consequências da mudança de rumo do PSD. “Não vou comentar congressos partidários”, insistiu Catarina Martins. “Para o BE, as prioridades mantêm-se: recuperar pensões e salários e fazer as alterações da legislação laborar que permitam valorizar os salários no sector privado e permitir o acesso à reforma sem penalizações de quem tem longas carreiras contributivas — mais de 60 anos de idade e 40 de contribuições”, sublinhou.

Questionada sobre se sente mudanças no PS face ao momento em que foram assinados os acordos, a coordenadora do BE não disse que sim nem que não: “O que conta são as opções políticas, o que interessa são medidas concretas para melhorar a vida das pessoas.” Mas admitiu problemas em relação à revisão das leis laborais: “É complicado, temos posições divergentes nesta matéria, mas também sabemos que fizemos um acordo em Novembro de 2015 para recuperar rendimentos de quem trabalha. Mantemos hoje a mesma força, consistência e capacidade para chegar a convergências que possam valorizar salários e pensões.”

O Presidente da República está a receber os partidos com assento parlamentar numa ronda que só termina na segunda-feira, quando receber a nova liderança do PSD, para os ouvir “sobre o que é importante para Portugal no imediato e a prazo”, nomeadamente o “quadro financeiro plurianual, investimentos públicos a prazo, o chamado ‘pós-2020’”.

PEV, PCP e CDS levaram a Belém uma preocupação comum com a degradação da qualidade dos serviços públicos e a necessidade de mais investimentos, sobretudo na Saúde e Educação. Verdes e comunistas colocaram também no topo das suas prioridades as mudanças na legislação laboral, sobretudo para combater a precariedade — enquanto o BE acentua a necessidade de aumento de salários. Nenhum destes três partidos de esquerda quis falar sobre a nova liderança do PSD, o elefante no meio da sala também nas audiências com o chefe de Estado. Só a líder do CDS acedeu a dizer o óbvio: que o PSD é o seu parceiro natural.

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