Kim convidou Presidente Moon para ir a Pyongyang “o mais depressa possível”

Irmã de Kim aproveitou Jogos Olímpicos de Inverno para entregar mensagem – se acontecer, será o primeiro encontro de líderes coreanos em mais de dez anos.

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A irmã de Kim Jong-un e o Presidente da Coreia do Sul EPA
Kim Yo-jong escreve no livro de visitas da presidência da Coreia do Sul
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Kim Yo-jong escreve no livro de visitas da presidência da Coreia do Sul YONHAP
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A irmã de Kim foi a primeira da dinastia no poder na Coreia do Norte a visitar o Sul YONHAP

 

Kim Jong-un propôs uma cimeira ao Presidente da Coreia do Sul e quer realizá-la na sua capital, Pyongyang, “o mais depressa possível”. O convite foi feito ontem pela sua irmã, que depois de assistir à abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno de Pyeongchang (no Sul), foi a Seul almoçar com Moon Jae-in.

Depois do almoço em que se comeu kimchi e se bebeu licor de soju (feito de arroz), diz o jornal The Guardian, Kim Yo-jong, a irmã que é considerada a número dois do regime, deixou uma nota no livro de visitas do Palácio Presidencial, garante o The Washington Post na sua conta de Twitter. Uma mensagem inesperada, onde, segundo o jornal norte-americano, onde expressa a esperança de que “Pyongyang e Seoul fiquem mais próximos do coração dos coreanos” e de que exista “unificação e prosperidade no futuro próximo”.

“Vamos criar as condições para que isso aconteça”, foi a resposta do Presidente Moon, segundo o seu porta-voz. O que, esclareceu outro responsável da presidência sul-coreana, significa que “praticamente aceitou” o convite.

A acontecer, esta será a primeira cimeira a juntar os líderes dos dois lados da península coreana desde 2007 — nesse ano, o Presidente Roh Moo-hyun visitou Pyongyang para conversações com Kim Jong-il (o pai do actual líder). 

Uma viagem no sentido Norte-Sul nunca tinha acontecido. Kim Yo-jong foi a primeira representante da dinastia Kim a atravessar a linha que divide a Coreia desde que a guerra começou em 1950 (os dois lados continuam oficialmente em guerra já que em 1953 assinaram um armistício, não a paz). 

Para o Presidente Moon, que fez da reaproximação com o Norte a aposta forte da sua presidência, que começou em Maio do ano passado, este convite é uma importante vitória diplomática. Pode, porém, deixá-lo em dificuldades perante o aliado americano que tem reagido com cepticismo ao entendimento alcançado entre o Norte e o Sul para estes Jogos Olímpicos. Washington advertiu mesmo para haver cautela por parte do Governo de Seul. 

O vice-presidente dos Estados Unidos, Mike Pence, que participou na cerimómia de abertura dos jogos sentado na fila à frente daquela em que estava a irmã de Kim, organizou-se para nunca a olhar de frente para ela ou cruzar-se com ela — esteve apenas breves instantes no início do jantar de dignitários na sexta-feira em Pyeongchang, saindo antes de a enviada de Kim Jong-un chegar. Na cerimónia, e no momento em que as delegações do Sul e do Norte da Coreia desfilaram juntas no estádio olímpico, um momento que levou quase todos a levantarem-se e a aplaudirem, Pence manteve-se sentado e quieto.

Dias antes de chegar à Coreia do Sul, Pence avisou que os EUA preparam “o mais duro e agressivo pacote de sanções económicas de sempre à Coreia do Norte”. 

Até ao momento, Moon tem articulado com a Administração Trump a estratégia de resposta à Coreia do Norte devido ao programa de mísseis e nuclear de Kim. O vice-presidente declarou que Washington e Seul continuam alinhados “na campanha de pressão extrema” à Coreia do Norte. E, ontem, no Twitter, comentou o convite a Moon e a ofensiva diplomática de Kim Jong-un durante os Jogos de Inverno: disse que não “permitirá que a charada da propaganda do regime norte-coreano fique sem resposta no palco mundial”.

É preciso esperar para se saber se esta “diplomacia olímpica” terá resultados práticos. Alguns analistas duvidam e tentam desmontar o objectivo de Kim Jong-Un. Kim Sung-han, antigo número dois do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Seul e agora professor universitário, considera que o convite a Moon é “até agora a manobra mais forte da Coreia do Norte para criar uma divisão entre o Sul e os EUA”.

Outros analistas consideram que a Administração Trump está a par do que se está a passar na península coreana — até antes dos jogos, Moon e Donald Trump mantinham uma comunicação regular devido à crise aberta com os testes balísticos e nucleares; além de que a segurança sul-coreana depende em grande medida dos EUA.

Depois do convite de Kim, Jong-un Moon disse uma frase que pode ter dois significados: é um sinal de que não está a alienar Washington ou é um incentivo a uma mudança de estratégia por parte de Trump: “Para que se desenvolva uma relação entre o Sul e o Norte da Coreia, é também necessário o rápido retomar do diálogo entre os Estados Unidos e o Norte”.     

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