Icomos exige que projecto para São Bento seja submetido à UNESCO

Time Out assume que Souto Moura propôs torre para a lateral da estação, mas nega que esta tenha 18 metros de altura. E garante que nada foi ainda aprovado.

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A Time Out tem a concessão dos armazéns da ala sul da estação de São Bento Paulo Pimenta

O grupo Time Out, que detém a concessão para exploração da ala Sul da estação de São Bento, assume que a proposta que pôs à discussão da Direcção Geral do Património Cultural e da Sociedade de Reabilitação Urbana do Porto prevê um edifício em altura, mas nega que esteja em causa a construção, junto a um monumento classificado, de uma torre de 18 metros de altura, como denunciou o Bloco de Esquerda esta semana. A Comissão Nacional Portuguesa do Icomos – Conselho Internacional dos Monumentos e Sítios exige que o processo seja analisado pelo Comité do Património Mundial da UNESCO, tendo em conta que a estação está situada na área do Património da Humanidade.

O responsável pela expansão do Time Out Market para o Porto, João Cepeda, explicou ao PÚBLICO que o que está em análise neste momento, e sem aprovação ainda, é um pedido de informação prévia para aquela concessão. Mas o Icomos-Portugal, uma das instituições representadas no Conselho Nacional de Cultura, órgão de consulta da Direcção-Geral do Património Cultural, deu parecer negativo à intervenção. A presidente do Icomos, Soraya Genin, considera que qualquer que seja o projecto, ele deve ser analisado por aquele comité da UNESCO, para evitar erros do passado. “Há muita coisa que tem sido feita sem os procedimentos correctos”, insiste a dirigente deste organismo que reúne especialistas ligados à salvaguarda do património.

João Cepeda diz desconhecer qualquer decisão sobre a proposta que, assume, foi discutida informalmente por Souto de Moura com o presidente da Câmara e com o vereador do urbanismo, para garantir que, desta vez, as ideias da Time Out estão alinhadas com as expectativas do município para o local. “Só depois de termos a certeza que todas as instituições que têm de dar aval a isto estão confortáveis com a solução é que avançaremos com o projecto”, adiantou o responsável pela empresa que, depois de uma primeira tentativa de intervenção que desagradou à autarquia, no ano passado, contratou Souto Moura para o desenvolvimento de um novo Pedido de Informação Prévia (PIP).

Cepeda “recusa” divulgar desenhos que estão ainda a ser avaliados – “até porque isso poderia ser entendido como uma forma de pressão”, justifica. Assume que Souto de Moura propôs um volume em altura “afastado” do edifício principal da estação, mas garante que, ao contrário do que afirmava o BE numa pergunta enviada ao Ministério da Cultura, não se trata de uma torre com 18 metros de altura. “Vamos recuperar o que está edificado”, insiste, explicando que só depois de definidos os volumes de construção será trabalhado o programa de ocupação daquela ala da estação, voltada para a Rua do Loureiro.    

O responsável pelo projecto da Time Out garante que “não tem pressa” para levar por diante o projecto, pois pretende que ele “acrescente qualidade” à cidade e seja do agrado dos vários intervenientes envolvidos, incluindo os defensores do património, notou. Para já, o município, que tinha feito críticas contundentes ao projecto anterior – sobre o qual não tinha sido consultado – parece encarar de outra forma esta nova iniciativa. Questionado na segunda-feira sobre a polémica levantada pelo BE, Rui Moreira remeteu explicações para a SRU, entidade liderada por um representante do Estado mas na qual tem um administrador, e para a DGPC, cujo parecer é essencial para o avanço do processo. Esta última entidade não respondeu, até esta quarta-feira ao pedido de esclarecimento do PÚBLICO sobre este caso. 

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