Trinta e cinco anos depois, ecologistas debatem-se com os mesmos problemas

Partido Ecologista Os Verdes assinalou ontem os seus 35 anos. Energia nuclear, eucaliptização do país e reciclagem continuam na ordem do dia, diz a deputada Heloísa Apolónia.

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Mario Lopes Pereira

O que trouxe de novo à sociedade portuguesa um partido ecologista em 1982?
Nessa altura colocavam-se questões relacionadas com as matérias de desenvolvimento que estavam a ser subavaliadas na sua dimensão e importância de segurança, de resposta às populações, como a matéria do nuclear ou da eucaliptização do país, às quais os Verdes vieram dar uma resposta diferente do pensamento que estava mais valorizado na sociedade, que era a dimensão económica e de importância do investimento destas matérias. Os Verdes fizeram lutas importantes no sentido de mostrar que isto não eram ganhos mas sim prejuízos para o território e para as populações ao nível da segurança e que havia outras alternativas de desenvolvimento que era preciso prosseguir.

É irónico que 35 anos depois estejamos a debater os mesmos temas.
É verdade, e dando razão ao que os Verdes diziam na altura: com a eucaliptização do país e a sobrevalorização da sua dimensão económica íamos arranjar problemas muito sérios na floresta. A monocultura do eucalipto deu cabo da biodiversidade, da multifuncionalidade e da multidimensão de boa parte da nossa floresta e tem uma responsabilidade muito séria nos fogos florestais.

Mantêm-se os desafios que justificam um partido ecologista?
Com certeza. Sempre que se pensa a dimensão do desenvolvimento faz falta a perspectiva ecologista, sobretudo numa sociedade de globalização, de um capitalismo atroz que fez opções gravosas para as populações, ao nível da exploração, da insegurança, da poluição.

Quais as diferenças fundamentais entre o PEV e o PAN?
A ideologia dos partidos é diferente: o PAN é um partido animalista, o seu principal foco é o dos direitos dos animais; o PEV é um partido ecologista, que é uma questão que vai mais além que o ambientalismo, que toca todas as dimensões da sociedade e agrega-as.

E em que é que o PEV se distingue do PCP?
Temos perspectivas ou tempos diferentes em algumas matérias. Por exemplo, na dimensão nuclear, preconizamos a mesma solução – não construir centrais -, mas o PCP tem uma visão de aposta na investigação, ao passo que o PEV é bastante radical, no sentido da eliminação efectiva da energia nuclear. Na adopção por casais do mesmo sexo, o PCP assumiu que era preciso continuar um debate na sociedade e o PEV considerou que já havia condições para essa aprovação.

Existe a taxa sobre os sacos de plástico, propunha a taxa às celuloses, concordava com a das renováveis. O caminho é forçar a mudança taxando comportamentos de consumidores e empresas?
São três casos diferentes, mas não é tanto essa a perspectiva dos Verdes.

No caso da taxa das celuloses era colocar essas empresas, a quem se permitiu que fossem donas e senhoras da floresta, a dar um contributo para o incentivo à plantação de espécies autóctones e dar garantias de rendimento aos pequenos produtores que optassem por estas espécies que levam mais tempo a criar rentabilidade.

A das renováveis não era tirar com uma mão o que se dá com outra nas rendas?
Na nossa perspectiva, o ideal era a gestão pública do sector. A necessidade da diminuição das rendas é fundamental. É revoltante pagarmos às eléctricas para darem lucros significativos aos accionistas.

E a dos sacos plásticos está a cumprir o objectivo de reduzir os resíduos?
Às vezes é muito mais fácil ir pela questão da taxa do que pela regulação do mercado, impondo-lhe que faça ofertas sustentáveis ao cidadão. Foi isso que aconteceu com os sacos. O Governo pretendia arrecadar 40 milhões de euros através da taxa dos sacos, só que as grandes superfícies fizeram um grande negócio: como só os sacos leves eram taxados, retiraram-nos do mercado e vendem aos consumidores uns mais grossos que não pagam taxa. Ou seja, o Estado não arrecada nada com aquilo e acaba por ser uma negociata para alguns. Houve quem começasse a usar cesta e sacos de ráfia, o que é positivo.

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