São poucos os que recuperam de um fracasso a Matemática

Estudo europeu alerta para persistência de desigualdades no sistema educativo.

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As negativas a Matemática "raramente são episódios passageiros", frisa DGEEC Miguel Manso

Entre 95% e 97% dos estudantes que reprovaram no 3.º ciclo, ou seja quase todos os alunos, tiveram negativa a Matemática em 2014/2015, segundo dados divulgados pela Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência (DGEEC), num estudo em que analisou o desempenho escolar por disciplina curricular.

O problema com a Matemática afecta também os alunos que passaram de ano. Deste grupo, no 7.º ano, 24% tiveram negativa a Matemática, percentagem que sobe para 32% e 30% nos anos seguintes. Inglês, Português e Físico-Química são as outras disciplinas com maior percentagem de negativas.

Estes dados confirmam, segundo a DGEEC, que a Matemática é a disciplina com “a percentagem mais elevada de insucesso”. E é também a área onde os alunos têm maior dificuldade em transformar uma negativa anterior em positiva.

Dos que transitaram do 7.º para o 8.º ano levando uma negativa a Matemática (geralmente, no ensino básico, o limiar para que um aluno fique retido num ano é a existência de três negativas), só 16% conseguiram superar esse desafio. Na Educação Visual, por exemplo, a taxa de recuperação é de 79%.

Já no grupo dos que ficaram retidos no 7.º ano, e tiveram negativa a Matemática, verifica-se que apenas 32% conseguiram alcançar positiva nessa disciplina, apesar de terem repetido o ano. Esta percentagem desce para 26% no 8.º. Estes resultados mostram que as negativas nesta disciplina “raramente são episódios passageiros”.

Apesar deste cenário na Matemática, a capacidade de recuperar um bom desempenho é mais frequente do que parece. No conjunto, a maioria dos alunos do 3.º ciclo conseguiram, após repetir um ano, transformar as negativas em positivas, “situando-se a percentagem de recuperações entre os 50% e os 80%, dependendo da disciplina e do ano curricular em causa”.

Esta constatação da DGEEC contraria vários dos estudos feitos sobre a retenção, mas o afastamento dos alunos com baixos rendimentos para outros percursos pode ajudar a explicá-la.

 

Migrantes e imigrantes

Os resultados deste estudo são divulgados numa altura em que um relatório da Comissão Europeia (CE), o Monitor da Educação e Formação, dá conta que a percentagem de fracos desempenhos, incluindo na literacia a Matemática, está a descer entre os alunos portugueses de 15 anos, ao contrário do que se passa na União Europeia. Este estudo tem na base os resultados dos testes PISA (Programme for International Student Assessment), realizados de três em três anos pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico.

Mas o relatório da CE alerta também para a persistência de desigualdades no sistema educativo português. Tendo como base a percentagem de chumbos aos 15 anos (31%), que é a terceira mais elevada na UE, afirma-se que “o fosso social a este respeito é significativo” porque estas taxas são “superiores a 52% entre os estudantes desfavorecidos e inferiores a 9% entre os favorecidos”.

Já as “clivagens entre não migrantes e imigrantes de primeira e de segunda geração — medido pelas taxas de abandono escolar precoce, o desempenho PISA e a repetição de ano — são comparativamente pequenas”, refere-se neste estudo. 

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