"É preciso que os turistas encontrem produtos de Portugal à venda quando voltam a casa"

Duas luso-descendentes querem usar a maior visibilidade turística de Portugal, no exterior, para ajudar os produtores portugueses a internacionalizar os seus produtos. A primeira acção foi em Paris. Segue-se Londres.

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As luso-descendentes Ana Sofia Oliveira e Dina Carvalho Sanches criaram a marca My Genuine Portugal.

Colocar os produtos portugueses nas prateleiras dos hipermercados, em lojas gourmet e restaurantes em França, para que se compre, por exemplo, um Queijo da Serra da Estrela com a mesma facilidade de um mozzarella italiano. É este o objectivo de duas luso-descendentes que levaram produtores de vinhos e gastronomia de cinco regiões portuguesas ao terceiro maior evento de Paris, a festa das vindimas de Montmartre, que se realiza há 84 anos.

Se Portugal está na moda como destino turístico, porque não aproveitar esse boom e a maior visibilidade que está a ter no exterior como uma oportunidade para promover e internacionalizar os produtos portugueses? A ideia fervilhava na cabeça das luso-descendentes Ana Sofia Oliveira e Dina Carvalho Sanches. Há cinco meses criaram a marca My Genuine Portugal. “É preciso que os turistas provem os produtos, em Portugal, e que, quando regressem a França, os encontrem à venda nos supermercados, restaurantes e lojas gourmet”, defende Ana Sofia Oliveira, da área de marketing.

A primeira acção promocional da My Genuine Portugal decorreu na famosa festa de tradições culinárias e vínicas, que atrai meio milhão de visitantes, organizada pela Câmara do 18° Bairro de Paris, no famoso bairro boémio de Montmartre. “Nesta festa, Portugal é o país convidado de honra, porque há uma presença muito forte de portugueses em Paris”, explica o presidente do 18º Bairro de Paris,  Eric Lejoindre, que degustou os produtos portugueses. “Há uma forte receptividade dos franceses em relação à gastronomia portuguesa”, realça Eric Lejoindre.

O contexto não poderia ser mais favorável a esta acção promocional. “Nunca se ouviu tanto falar de Portugal nos media franceses como agora, desde turismo, imobiliária e cultura”, afirma Dina. Realça ainda o entusiasmo dos franceses com as vantagens fiscais de compra de casa em Portugal. A juntar a isto, os últimos atentados colocam o nosso país entre os cinco mais seguros do mundo, destaca o presidente do Turismo do Centro de Portugal, Pedro Machado. “Em Portugal não é normal entrarmos num certame destes, mesmo ao ar livre, e termos detectores de metais à entrada e revistas às mochilas e carteiras”, diz.

E os produtores portugueses só têm a ganhar com o boom turístico. “França é um mercado importante, tem canais abertos e uma proximidade geográfica que permitem, por exemplo, combater mercados que, durante muito tempo, eram preferenciais, como África, e que estão em retracção. Existe uma procura crescente do mercado dos vinhos e dos outros produtos”, realça o presidente do Turismo do Centro de Portugal.

Esta festa das vindimas é um palco privilegiado, desde o contacto directo com consumidor final até à possibilidade de novos canais de comercialização e “relações com empresários portugueses e franceses que vivem em Paris e que sabem o valor real da gastronomia associada aos vinhos, doçaria, queijo”, diz.

Já segundo o presidente da Turismo do Porto e Norte de Portugal, Melchior Moreira, “o mercado francês, sendo o segundo mercado externo emissor para a região do Porto e Norte, tem uma quota no mercado estrangeiro de 14%, logo após o mercado espanhol, com um total de 403 mil dormidas até a Agosto”.

Filas para provar alheira

Ana e Dina, que cresceram em Paris e onde apenas a última vive, viram, assim, no evento uma oportunidade para “mostrar que Portugal é mais do que o pastel de nata, bacalhau e vinho do Porto”. Levaram produtores do Tâmega e Sousa, Trás-os-Montes, Coimbra, Beiras e Serra da Estrela e Beira Baixa. Nos stands em frente à Basílica do Sagrado Coração (Sacré-Coeur), no topo da colina de Montmartre, os parisienses fazem fila para provar a típica chanfana, o leitão da Mealhada, a alheira de Mirandela, o chouriço transmontano e de Arganil. O azeite e as castanhas. Também se renderam aos vinhos Verdes, de Trás-os-Montes, da Bairrada e da Beira Interior.

“A festa de vindimas teve uma mais-valia com a participação das regiões portuguesas, porque os produtos são bons, as pessoas são simpáticas. Deve-se pensar noutros eventos em França com a presença de Portugal”, defende Hermano Sanches Ruivo, vereador português na Câmara de Paris, que resume tudo a uma questão de diplomacia económica e das cidades. “Se cada vez mais franceses pedirem produtos portugueses e na programação de Paris propormos aos habitantes esses produtos, então Portugal vai ter mais exportação”, defende Sanches Ruivo, que pretende intensificar a relação entre Portugal e França. E ter um vereador luso-descente de Castelo Branco ajuda. “Assinámos agora um protocolo entre Paris e Lisboa para facilitar a vinda de startups de Lisboa e vice-versa”, conclui.

A Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP) aproveitou o evento para lançar, em Paris, o programa da Rede de Restaurantes Portugueses no Mundo, para promover a gastronomia lusitana. “Queremos criar 15 restaurantes em cada um dos mercados espanhol, francês, inglês, alemão e brasileiro, num total de 75, até Maio de 2018”, adianta Teresa Vivas Agrego, da AHRESP.

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