Ultimato ao Qatar chega ao fim com a ameaça de novas sanções

Liderado pela Arábia Saudita, o bloco de países que impôs um bloqueio aos qataris na mais grave crise em décadas na região admite expulsar o país do Conselho de Cooperação do Golfo.

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Os qataris deixaram mensagens para o seu emir, Tamim al-Thani Naseem Zeitoon/Reuters

A lista de 13 exigências apresentada pela Arábia Saudita, Egipto, Emirados Árabes Unidos e Bahrein “foi feita para ser rejeitada, não para ser aceite ou negociada”, diz o ministro dos Negócios Estrangeiros do Qatar, Mohammed bin Abdulrahman al-Thani. A lista veio com um prazo de dez dias que acaba à meia-noite. Agora, ameaçam responsáveis políticos destes países, Doha pode enfrentar novas sanções.

De nada valeram os telefonemas do secretário de Estado americano, Rex Tillerson, que passou os últimos dias em busca de um princípio de entendimento. Tillerson viu-se numa posição difícil desde o início da crise, a 5 de Junho. Dizendo-se “atónito” com as acusações que os quatro países fazem ao Qatar – onde Washington tem uma importante base e a sede do comando militar regional (CENTCOM) –, viu o Presidente Donald Trump acusar o país de apoiar os jihadistas sírios (no Twitter, claro), escolhendo lados numa disputa que os EUA têm todo o interesse em atenuar, não agravar.

As exigências eram, de facto, inaceitáveis (“completamente inadmissões”, nas palavras do ministro dos Negócios Estrangeiros alemão, Sigmar Gabriel) e incluíam fechar a televisão pan-árabe Al-Jazira, encerrar uma base turca no país, diminuir as relações com o Irão e pagar “indemnizações por perdas de vidas ou financeiras causadas pela política do Qatar”.

Desde 5 de Junho que a pequena e rica nação enfrenta um bloqueio decretado por estes quatro países, que a acusa de apoiar o terrorismo e de se alinhar com o Irão contra aliados árabes sunitas – para além de cortarem todas as relações diplomáticas e económicas, encerraram ligações aéreas e marítimas e os sauditas fecharam a única fronteira terrestre do Qatar.

Segundo Doha, há 12 mil cidadãos qataris e residentes estrangeiros separados das suas famílias. Em resposta, a Turquia aumentou a sua presença militar no país e turcos e iranianos têm feito lá chegar carregamentos alimentares – o Qatar importa 90% dos alimentos que consome e 40% das suas importações passam pela fronteira saudita; o restante chega em cargueiros agora parados em portos dos Emirados.

O pouco que Tillerson terá conseguido passa por enviar para o Qatar responsáveis do Departamento do Tesouro americano que possam monitorizar as saídas de fundos, alegadamente direccionadas para grupos extremistas na Europa, e a possibilidade de colocar a Al-Jazira em árabe debaixo do mesmo controlo editorial da Al-Jazira em inglês.

“A alternativa não é uma escalada mas um afastamento”, diz o ministro dos Negócios Estrangeiros dos Emirados, Anwar Gargash, rejeitando um possível conflito militar. Em vez disso, o Qatar pode ser suspenso ou expulso da aliança económica e política regional, o Conselho de Cooperação do Golfo. De acordo com outros diplomatas de Abu Dhabi, podem ainda ser impostas sanções a países que continuem a fazer negócios com Doha.

Um cenário possível é obrigar cada capital “a escolher negociar com o Qatar ou com estes países”, disse numa entrevista o embaixador do Emirados em Moscovo, Omar Saif Ghobash. Os banqueiros comerciais na região acreditam que os bancos de Riad, Manama e Abu Dhabi se preparam para retirar depósitos do Qatar e suspender empréstimos interbancários com o país, podendo ainda banir os investidores de possuir bens qataris.

Num dos primeiros sinais do impacto que o bloqueio pode vir a ter no Qatar, alguns bancos britânicos deixaram de negociar em riais qataris. Para já, a crise não atingiu o sector da energia: o Qatar é o maior exportador de gás natural do mundo.

Pequeno mas com os seus recursos e indisponível para ser humilhado, é assim que o país continua a apresentar-se. Nas primeiras páginas dos jornais qataris de domingo liam-se palavras como “cerco”, enquanto nas redes sociais se partilhava um cartoon de David e Golias. O artista que desenhou o retrato do emir que tem sido pendurado nos prédios e afixado nos carros passou o dia num museu da capital: quem quis deixou uma mensagem no enorme rosto de Tamim bin Hamad al-Thani ali exposto; enquanto isso, o autor assinava as T-Shirts com o mesmo desenho.

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