"A solução é sair à rua e protestar"

"A solução é sair à rua e protestar, de forma estratégica, apesar da repressão muito grande e das campanhas do Governo", sublinha Andrea Tavares, do Fórum Câmbio Democrático.

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Os protestos na Venezuela não param e para Andrea Tavares não há outra solução: tem de se sair para a rua e protestar Reuters/MARCO BELLO

Andrea Tavares, coordenadora nacional do movimento Alternativa 1 e dirigente do Fórum Câmbio Democrático, explica que a actual crise resulta de uma política que assentou exclusivamente no petróleo.

O que está por trás da actual crise política da Venezuela?
Era inevitável chegar ao ponto onde estamos, e tudo se deve a uma política de Estado que assentou exclusivamente nos rendimentos do petróleo, nunca criou uma alternativa produtiva distinta e que mesmo antes da morte de Hugo Chávez já tinha dado mostra de estar a estafar o país. As dificuldades actuais têm a ver com duas grandes razões: a enorme corrupção em todos os estratos do Governo, e a ineficiência e burocracia das instituições. Com a queda do preço do petróleo, deixou de haver maneira de suportar a despesa da política económica. A necessidade de importação de alimentos levou a uma crise de abastecimento e escassez; a resposta do Governo, de imprimir moeda sem respaldo, fez disparar a inflação.

Nesse quadro, a oposição conseguiu um triunfo eleitoral importante. Mas a resposta do Governo foi – e continua a ser – totalmente fora do marco legal e da Constituição. Suspendeu todos os processos de consulta popular e democrática, do referendo revogatório às eleições locais; suspendeu a certificação de partidos e candidatos políticos; inviabilizou a própria Assembleia Nacional. Agora propõe uma Constituinte e uma nova Constituição sem consulta popular, para consagrar um Estado comunal, isto é, assente nas organizações do partido do Governo.

Qual é a solução para sair do impasse?
Num primeiro momento defendemos o diálogo, de forma a estabelecer um acordo de convivência entre as duas grandes forças que governam o país. Mas o Governo não cumpriu: é, como chamamos aqui, um Governo foragido, que não respeita nem cumpre as normas. Sendo assim, torna-se muito difícil concertar e negociar uma saída. A solução é então sair à rua e protestar, de forma estratégica, apesar da repressão muito grande e das campanhas do Governo que tenta passar a imagem de que o movimento de protesto é uma minoria, é a direita, são terroristas. Mas quem está na rua é sobretudo a juventude que nasceu e cresceu só com este modelo político, e se sente sem alternativas e sem oportunidades de progresso.

Pensa que ainda será possível negociar, ou já não há maneira de evitar a radicalização?
Por agora é a radicalização que avança. Pouco serve dizer que há que abrir um caminho negocial e chegar a acordos que permitam ultrapassar a crise e resolver a polarização dos dois grandes blocos quando não há intenção nenhuma do Governo em negociar. Eles vão fazer a Constituinte sem se importar com nada nem ninguém, nem os manifestantes, nem os mortos. E não basta a posição solitária do Ministério Público, que tem reagido perante os últimos desenvolvimentos. Por isso é tão importante o apoio internacional, principalmente neste momento em que o Governo mudou de estratégia e convoca à violência para desviar a atenção da agenda da oposição e da qualidade pacífica dos protestos.

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