May admite manter temporariamente a livre circulação de pessoas após o "Brexit"

Primeira-ministra muda de tom após avisos de Bruxelas sobre condições para período de transição após 2019.

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May admite que as empresas e os governos precisam de um tempo para se adaptar à nova realidade Fayez Nureldine/Reuters

Pela primeira vez, a primeira-ministra britânica, Theresa May, admitiu que aceitará manter a livre circulação de pessoas durante um possível período de transição após a saída do Reino Unido da União Europeia. Uma mudança de tom que surge depois de Bruxelas ter avisado Londres que o acesso ao mercado único durante esta fase está condicionado ao respeito pelas regras europeias.

A imigração foi uma das principais razões – senão a principal – que levou os britânicos a votar maioritariamente a favor da saída da UE no referendo de Junho. E em Janeiro, quando apresentou os seus objectivos para as negociações, May assumiu como prioridade o controlo da imigração, sacrificando o acesso ao mercado único pelo direito a decidir quem entra no país.

Desde então, no entanto, vários ministros admitiram que poderá ser necessário um período de adaptação, que os níveis da imigração não vão baixar drasticamente com o fim da livre circulação, e que o país continuará a querer cativar os europeus mais qualificados.

O que May agora vem admitir é que poderá não mudar nada após Março de 2019, quando o Reino Unido abandonar a UE, perante os sinais cada vez mais claros das instituições europeias de que o acordo de livre comércio ambicionado por Londres só estará concluído vários anos mais tarde e que, para evitar o caos, será necessário as duas partes definirem as condições de um período de transição. E quer o Parlamento Europeu – que esta quarta-feira aprovou uma resolução com as suas linhas vermelhas para as negociações –, quer o Conselho Europeu defendem que, para manter alguns dos benefícios actuais (caso do acesso ao mercado único), o Reino Unido terá de cumprir as obrigações correspondentes.

O Governo britânico insiste que será possível definir as relações futuras nos dois anos previstos para as negociações do “Brexit”, mas admite que será necessário uma “fase de implementação” para as mudanças acordadas. Questionada nesta quarta-feira sobre se aceita manter a livre circulação de pessoas durante este período, May deixou claramente aberta a porta a essa possibilidade. “Assim que chegarmos a acordo, que tivermos decidido o que essa nova parceria será no futuro, será necessário um período de tempo para que as empresas e os governos ajustem os seus sistemas, dependendo da natureza do acordo”, afirmou a líder conservadora, em visita ao Médio Oriente.

O Governo britânico também não decidiu ainda que modelo quer adoptar para controlar a imigração, apesar de manter a promessa de que vai reduzir os níveis actuais para um saldo migratório abaixo das cem mil pessoas por ano (um terço da média dos últimos anos). A primeira-ministra britânica assegura no entanto que os eleitores lhe deram um mandato “para controlar as fronteiras e a imigração” e “é exactamente isso que acontecerá com a saída da UE”.

“Passou menos de uma semana desde que a primeira-ministra accionou o artigo 50 e cada dia que passa há uma promessa que é quebrada”, reagiu o porta-voz do Partido Trabalhista (na oposição), sublinhando que depois da retórica dos últimos meses, May começa a confrontar-se com a realidade. 

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