Casa Branca recua na acusação a Obama: Trump disse “escutas”, não escutas

Não existem provas das graves acusações que Trump dirigiu a Obama. A história das escutas terá partido de sites da extrema-direita.

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O segredo está nas aspas, explica Sean Spicer. Reuters/KEVIN LAMARQUE

A Casa Branca recuou na segunda-feira nas graves acusações dirigidas ao antigo Presidente norte-americano Barack Obama sobre supostas escutas ao milionário nova-iorquino que é hoje chefe de Estado. Os tweets explosivos de Donald Trump, explica agora o porta-voz da Casa Branca, não devem afinal ser entendidos de forma literal. Ao aludir a “escutas”, afirma Sean Spicer, o Presidente referia-se a “todo um tipo de opções de vigilância” e não necessariamente a escutas telefónicas a mando de Obama.

“Ele não pensa mesmo que o Presidente Obama escutou o seu telefone pessoalmente”, disse Spicer.

“O Presidente foi muito claro no seu tweet ao referir, vocês sabem, ‘escutas’” – disse Spicer, fazendo aspas com os dedos – “e isso incluiu todo um tipo de opções de vigilância”.

Importa recordar as acusações de Trump:

  • “Terrível! Acabei de descobrir que Obama tinha ‘escutas’ na Torre Trump antes da vitória. Nada foi encontrado. Isto é mccarthismo!”, twittou Trump a 4 de Março.
  • “Será legal um presidente em exercício ‘escutar’ uma campanha presidencial antes de uma eleição? Foi recusado por um tribunal antes. Um NOVO PONTO BAIXO!”, escreveu de seguida.
  • “Quão baixo teve de descer o Presidente Obama para escutar os meus telefones durante o muito sagrado processo eleitoral. Isto é Nixon/Watergate. Um tipo mau (ou doente)!”, twittou ainda.

Neste último tweet, note-se, Trump não usa aspas para acusar Obama de o ter escutado. Mas Spicer afirma que, com aspas ou sem aspas, a acusação não tinha um sentido literal.

Já no domingo, a conselheira presidencial Kellyanne Conway tinha ensaiado o recuo da Casa Branca, ao afirmar que Obama poderia ter empregado um sem-número de técnicas de vigilância – incluindo o recurso a aparelhos microondas, numa sugestão entretanto ridicularizada nas redes sociais – e não necessariamente escutas telefónicas.

O recuo ocorre depois de o comité dos serviços secretos da Câmara dos Representantes e o comité judicial do Senado terem pedido ao Departamento de Justiça que apresentasse provas das alegações de Trump (algo também solicitado por opositores internos, como o senador republicano John McCain). Na segunda-feira, Spicer explicou que o Presidente não emitiu qualquer ordem no sentido de apresentar as ditas provas e sugeriu que Trump se baseara numa variedade de informações e notícias, incluindo do The New York Times (NYT).

O jornal nova-iorquino já veio negar alguma vez ter noticiado a existência de escutas que tivessem o actual Presidente como alvo. No entanto, a referência a supostas notícias do NYT continua a surgir em artigos de sites da extrema-direita como o Infowars. Trump terá assim recorrido mais uma vez a uma notícia falsa de um site partidário.

Recorde-se que as graves acusações de Trump foram imediatamente desmentidas por Obama, através de um porta-voz, e pelo FBI, cujo director, James B. Comey, veio exigir um desmentido por parte do Departamento de Justiça.

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