É bom, mas (ainda) é poucachinho

Apesar do crescimento projectado chegaremos a 2019 com uma economia do tamanho da que tínhamos em 2008, o ano em que começou a crise financeira internacional.

A s projecções do Banco de Portugal divulgadas nesta quarta-feira apontam para uma aceleração da economia portuguesa de 1,2% em 2016 para 1,4% no próximo ano e 1,5% em 2018 e 2019.

É uma boa notícia. Mas melhor ainda é o padrão de crescimento que o Banco de Portugal antecipa. As componentes do PIB mais dinâmicas vão ser as exportações e o investimento. Devia ser sempre assim numa economia aberta. E tal como a instituição liderada por Carlos Costa explica, o padrão que agora se vislumbra “é compatível com uma recuperação mais sustentada da economia portuguesa”.

Mas há mais boas notícias. Depois de afundar 1,7% em 2016, o investimento recupera e crescerá acima dos 4% até 2019. Previsões que até são melhores que as do Governo. E também as exportações, depois de desacelerarem em 2016, voltam a acelerar até 2019 e são mais dinâmicas que a procura externa.

E ainda há mais. Portugal mantém capacidade de financiamento com as contas externas a manterem-se positivas e são projectadas reduções do endividamento do sector privado.

Um cenário brilhante? Longe disso.

Primeiro. Apesar do crescimento, Portugal continuará a crescer menos que os parceiros do euro.

Segundo. Esse crescimento não será suficiente para anular a quebra do PIB verificada entre 2010 e 2013.

Terceiro. Mesmo com este crescimento, chegaremos a 2019 com uma economia do tamanho da que tínhamos em 2008, o ano em que começou a crise financeira.

Quarto. Há muitos riscos pelo caminho. A situação em Itália. O efeito da subida das taxas de juro nos EUA. As dúvidas sobre a política monetária do BCE. O "Brexit". A evolução dos países emergentes. E a necessidade de Portugal ter de fazer mais esforços orçamentais que prejudiquem o crescimento.

Tudo somado, é bom, mas não chega. Porquê. Porque continuam “a persistir constrangimentos estruturais ao crescimento da economia”: elevados níveis de endividamento no sector público e privado; evolução demográfica desfavorável; a persistência de ineficiências nos mercados do trabalho e do produto.

Podiam ser recomendações da troika, mas são do Banco de Portugal. E que o programa de ajustamento não resolveu.

Em 2019 estaremos com uma economia do tamanho da que tínhamos em 2008. E hoje estamos igualmente impreparados para enfrentar uma crise de tal magnitude.

É poucachinho.

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