Cristas ofusca Passos? PSD diz que não

A popularidade de Assunção Cristas já é mais alta do que a de Passos Coelho de acordo com as sondagens mais recentes. Como vê o PSD o crescimento do parceiro de Governo?

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Assunção Cristas fez parte do Governo PSD/CDS Enric Vives Rubio

As eleições legislativas ditaram o início da união à esquerda e o fim da coligação de direita. Mas o relacionamento entre PSD e CDS não se quebrou logo, foi-se desvanecendo ao longo dos últimos meses e com especial enfoque depois de Assunção Cristas ter assumido a liderança dos centristas. E desde então, a líder do CDS não tem parado de conquistar popularidade, tendo já ultrapassado Pedro Passos Coelho. O PSD nega que haja competição entre os dois partidos.

No barómetro político da Eurosondagem de Maio, feito para o Expresso e para a SIC, não é só o PS que ganha vantagem sobre o PSD – 34,8% para os socialistas, 31,7% para os sociais-democratas. Assunção Cristas, a líder do CDS, também voltou a ultrapassar Pedro Passos Coelho em popularidade. O líder do PSD até subiu nesse capítulo (está nos 12,3%), mas a centrista ultrapassou-o (tem 12,9%) mesmo num mês em que os sociais-democratas quiseram mostrar cara nova, depois do congresso do partido, no início de Abril. São indicadores que não preocupam o PSD. Por várias razões: primeiro há a técnica, de desvalorização deste tipo de sondagens; depois entra a política, que passa por uma diferenciação do espaço eleitoral, que pode ser útil para o bloco da direita no futuro, e pelas diferenças nas apostas políticas dos dois partidos.

"Os partidos não têm fronteiras estanques. O CDS tem um receio histórico de que o PSD acabe por lhe limitar muito o crescimento eleitoral", diz ao PÚBLICO Miguel Morgado, deputado e antigo assessor político de Passos Coelho no Governo. Na argumentação do social-democrata, o crescimento de popularidade de Cristas não assusta o PSD: "Um partido grande ter medo de perder eleitorado para o partido pequeno é o caso do PS com o BE", mas não do PSD com o CDS, garante.

Apesar de a relação já não ser tão próxima, no PSD também não acreditam que acabem por serem os centristas a roubarem-lhes grandes fatias de eleitores: "Não há preocupação com a alteração política do CDS, mas sim com a afirmação do PSD como o partido com maior número de deputados", diz Hugo Soares, vice-presidente da bancada dos sociais-democratas.

Mas o pouco nervosismo para os lados da Lapa, onde o PSD tem a sede nacional, prende-se com a visão que os sociais-democratas têm das apostas que Cristas tem feito. Um colaborador de Passos Coelho explica ao PÚBLICO que o PSD não está preocupado com a popularidade da líder do CDS, porque considera que esta tem feito algumas apostas políticas que, na verdade, acabaram por revelar-se erradas. “Um exemplo flagrante foi o de levar a votação no Parlamento o Programa de Estabilidade do Governo. O que ela permitiu foi que a esquerda se unisse à volta de Costa contra a direita. E a ‘geringonça’ acabou por ter ali um momento de grande coesão”, conclui.

Na altura, houve críticas a Passos Coelho, no sentido de que este tinha sido ultrapassado pela líder do CDS, que marcou a agenda e obrigou a esquerda a uma tomada de posição. “É verdade, obrigou a esquerda a definir-se, mas isso foi mau para o Governo? Não me parece”, diz o mesmo social-democrata. Também Teresa Morais, em entrevista ao PÚBLICO, defendeu que “não é pelo facto de o CDS se antecipar em várias propostas que necessariamente é mais eficaz”. Para a vice-presidente do PSD, é “absolutamente natural que o CDS queira ter um caminho de maior visibilidade e que queira crescer”, coisa que não “incomoda nem é mau para o PSD”, assumiu.

Esse crescimento, que para já é bem visto pelo PSD por este ser "um parceiro privilegiado", diz Hugo Soares, tem ligação directa ao estado de graça de Cristas. E é aqui que entra o terceiro argumento do PSD para o salto de popularidade da centrista: Cristas é recém-eleita e isso cria uma onda à sua volta: "É o impacto de uma liderança nova, mau seria que, depois de um congresso partidário, não houvesse élan para o novo líder", defende Hugo Soares. Morgado concorda, diz que "Cristas tem de se afirmar", mas lembra que há uma diferença à partida. "Passos foi primeiro-ministro e Cristas precisa de criar o seu próprio espaço". A avaliar pelas últimas sondagens, está a consegui-lo mas só para si, já que o CDS até desceu ligeiramente face à intenção de voto no mês anterior.

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