Depois de aumentos moderados, preços vão subir mais em 2016

No próximo ano, os portugueses devem assistir a uma subida de preços mais intensa do que no passado recente, mas ainda a um nível baixo em termos históricos.

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Se a previsão do BdP se confirmar, 2016 será o primeiro ano em que a inflação ultrapassa a barreira de 1% desde 2013 Nélson Garrido

Para os portugueses, viver com uma inflação próxima de zero tem vindo a tornar-se um hábito e uma fonte de algum conforto em tempos em que os rendimentos também teimam em não subir. Mas em 2016, a acreditar na generalidade das projecções, o cenário pode começar a mudar.

O grau de preocupação com que se pode olhar para a previsível evolução dos preços no próximo ano depende do horizonte temporal para onde se está a olhar. De acordo com o Banco de Portugal, os preços irão subir 1,1% durante o próximo ano. A confirmar-se, esta será a primeira vez desde 2013 que a inflação ultrapassa a barreira de 1%, depois de os preços aumentarem apenas 0,6% em 2015 e 0,4% em 2014. Mas olhando para os resultados registados desde 1999, o ano de criação da moeda única, 2016 será, mesmo com a aceleração de preços prevista, o quarto ano com uma taxa de inflação mais baixa, apenas acima de 2009, 2014 e 2015.

Isto é, em termos médios, os portugueses deverão sentir em 2016 uma subida de preços mais intensa do que no passado recente, mas ainda a um nível que em termos históricos é bastante baixo.

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Existem vários motivos para a aceleração progressiva dos preços que é esperada para o próximo ano. Um dos principais é a expectável limitação do impacto resultante da descida dos preços dos combustíveis. A queda bastante acentuada do custo do petróleo nos mercados internacionais que se registou em 2015 só muito dificilmente se repetirá ao mesmo ritmo em 2016. Isto faz com que a este nível se possa assistir à diminuição do contributo para uma inflação baixa.

Outro motivo está no recente acentuar da depreciação do euro face ao dólar, com a moeda única a aproximar-se a passos largos da paridade com a sua congénere europeia. A consequência deste fenómeno é uma maior pressão ascendente sobre os preços dos bens importados.

Depois, há também a progressiva recuperação do consumo em Portugal, que se deverá manter em 2016. Uma das razões para a moderada subida de preços nos últimos anos em Portugal foi a queda da procura interna no país que retirou às empresas espaço de manobra para subirem, em alguns casos manterem, as suas margens.

O fenómeno da inflação baixa não é um exclusivo português, regista-se em toda a Europa. Aliás, durante este ano, a taxa de inflação em Portugal voltou a estar acima da média da zona euro. É por isso que o Banco Central Europeu, que aponta para uma taxa de inflação de médio prazo na zona euro que esteja abaixo mas próxima de 2%, tem vindo a adoptar diversas medidas para fazer subir a inflação, tais como baixar as taxas de juro para níveis mínimos históricos e injectar liquidez na economia através da compra de activos nos mercados financeiros.

A esperada subida da inflação em Portugal resulta também dessa acção do BCE, que faz com que o euro se deprecie e, esperam Mario Draghi e os seus pares, ajuda a que a economia se reanime.

Para os portugueses, que comparam o seu salário com o preço dos bens que têm de comprar ao longo do mês, uma inflação o mais baixa possível é aquilo que é desejado. Mas, avisam os economistas, uma inflação demasiado baixa representa também um risco para todos.

Uma situação de deflação, em que os preços registam uma descida prolongada e persistente, gera mudanças de comportamentos nos consumidores e nas empresas que fazem com que a actividade económica saia prejudicada. Além disso, para Portugal, uma taxa de inflação baixa dificulta ainda mais a gestão do elevado nível de endividamento, tanto no sector público como privado.

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