Os apelidos catalães no cinema durante a campanha

Um filme onde é declarada uma República da Catalunha estreou a um mês das eleições. Sondagens indicam vitória da esquerda na região.

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Ada Colau e Pablo Iglesias em campanha Juan Medina/Reuters

Nos primeiros três dias de exibição, o filme Oito Apelidos Catalães foi visto por 1,2 milhões de espectadores, quase um recorde nas salas de cinema espanholas. No debate organizado pelo jornal El País, a 30 de Novembro, o líder do Podemos, Pablo Iglesias, recomendou aos outros candidatos que vissem “o primeiro filme espanhol onde se fala catalão, espanhol, basco e galego” para “perceberem como o país é plurinacional e diverso, fala diferentes línguas” e “essa é a sua grandeza”.

Iglesias descreve Espanha como “um país de países” e o seu partido é o único dos actuais grandes a nível nacional a defender a realização de um referendo sobre o estatuto da Catalunha, reivindicado nos últimos anos pelos nacionalistas catalães. Provavelmente por isso, não tem parado de subir nas sondagens.

Sequela do campeão de bilheteiras, Oito Apelidos Bascos, o filme que estreou a 20 de Novembro, exactamente um mês antes das legislativas em 755 salas de 402 cinemas (mais do que qualquer filme espanhol), brinca com os nacionalismos e as idiossincrasias das diferentes regiões de Espanha.

O casal do primeiro filme, o sevilhano Rafa (que nunca tinha até então saído da Andaluzia) e a basca Amaia, está entretanto separado; ela mudou-se para a cidade de Girona, onde se vai casar com o catalão Pau. Desta vez é Koldo, pai de Amaia, que se aventura a sair pela primeira vez do País Basco para procurar Rafa, tentando convencê-lo a recuperar Amaia.

Como acontecia no primeiro filme (Argoitia), aqui também há um munícipio imaginado, Soronelles. E é na sua praça rodeada de edifícios de pedra medievais que visitantes andaluzes e bascos vão assistir, sem o esperar, à declaração de uma República Catalã.

A questão do independentismo catalão foi um dos temas mais presentes nesta campanha e alimentou debates acesos entre os candidatos, com toda a oposição a responsabilizar o primeiro-ministro, Mariano Rajoy, por ter recusado debater com os líderes catalães e negociar uma solução que poderia ter impedido a escalada a que se assistiu, com o parlamento catalão a declarar a independência.

Há um mês, cinco partidos surgiam praticamente empatados na região: En Común Podem (a plataforma apoiada pelo Podemos), Esquerda Republicana, Partido Socialista Catalão (PSC), Democracia e Liberdade (a antiga Convergência de Artur Mas, presidente do governo regional) e Cidadãos (C’s), partido anti-independentista nascido precisamente aqui. Os últimos inquéritos já dão o Podemos e a Esquerda afastados dos restantes, sem ser certo qual será o mais votado. Em queda estão o partido de Artur Mas e o C’s.

Depois da Andaluzia, esta é a comunidade onde se elegem mais deputados para o Congresso, 47, dos quais 31 em Barcelona.

O independentismo, e os partidos conotados com o movimento, não atravessam um momento brilhante, com a falta de acordo sobre o nome do próximo presidente catalão. O Podemos, por seu turno, tem a seu favor a participação na campanha de Ada Colau, eleita em Maio presidente da câmara de Barcelona e que, nas últimas semanas, prometeu que a plataforma popular que a apoia fará um referendo antes do fim do seu primeiro ano de mandato, se vencer estas eleições. Também garantiu que terão um grupo próprio no Congresso nacional, algo que os socialistas catalães nunca tiveram.

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