“Desta vez é mesmo difícil”, diz Draghi sobre solução grega

Responsáveis do BCE mostram estar pessimistas em relação a um acordo e voltam a avisar que, sem um novo programa, o dinheiro deixa de chegar aos bancos gregos.

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Mario Draghi diz não acreditar num apoio russo à Grécia Kai Pfaffenbach/Reuters

Na manhã a seguir a terem anunciado que mantinham inalterado o valor da linha de emergência concedida aos bancos gregos, os responsáveis do Banco Central Europeu vieram mostrar em público as suas dúvidas em relação a um sucesso nas negociações gregas.

As declarações mais surpreendentes, pela forma como foram feitas, vieram do próprio presidente do BCE. De acordo com o jornal Il Sole 24 Ore, Mario Draghi falou sobre a crise, enquanto esperava para apanhar um avião quarta-feira em Bruxelas, com um grupo de jornalitas italianos.

Apenas duas frases foram citadas pelo diário. Em primeiro lugar, quando questionado se seria possível resolver a questão grega, o líder do banco central terá respondido “não sei”, alertando que “desta vez é mesmo difícil”.

Depois, conta ainda o Il Sole 24 Ore, foi perguntado a Draghi se a Grécia se poderia virar para a Rússia para obter o financiamento de que precisa. “Não me parece que esse seja um risco real. Além disso, eles não têm dinheiro nem para eles próprios”, terá dito o presidente do BCE.

Declarações públicas do presidente fora das conferências de imprensa ou participações agendadas em eventos não são um hábito do BCE. A instituição não quis comentar a notícia do jornal italiano.

Na quarta-feira, o banco central manteve a Assistência de Liquidez de Emergência (ELA na sigla inglesa) concedida aos bancos gregos num nível máximo de 89 mil milhões de euros. Esse valor já não consegue evitar que os bancos estejam fechados, permitindo-lhes apenas garantir o levantamento diário de 60 euros aos seus clientes através das caixas automáticas.

Os responsáveis do BCE têm deixado claro que, se não houver um acordo para um novo programa na Grécia este fim-de-semana, mesmo isso pode deixar de acontecer a partir de segunda-feira.

Numa altura em que na Alemanha ouvem-se cada vez mais críticas ao facto de o BCE continuar a disponibilizar 89 mil milhões de euros de crédito de emergência aos bancos gregos, o presidente do Bundesbank (e membro do conselho de governadores do BCE), veio também na manhã desta quinta-feira a público mostrar que não está disposto a aceitar esta situação por muito mais tempo.

Em declarações ao Financial Times, Jens Weidmann defendeu que “o Eurosistema não deve aumentar a sua concessão de liquidez e os controlos de capital devem manter-se até que um pacote de ajuda adequado tenha sido acordado entre todas as partes e a solvência do Estado e do sistema bancário gregos tenha sido garantida”. E tentou tranquilizar aqueles que acham que estão a ser dadas facilidades a mais. “A ELA já não está a ser usada para financiar a fuga de capital. Isto certamente que representa um passo em frente e passa a responsabilidade para onde ela deve estar: com os governos e os parlamentos”, disse.

Para completar as declarações dos responsáveis do BCE, o governador do banco central da Estónia também mostrou um tom de algum pessimismo. “Há alguns meses, não acreditaria que a Grécia iria sair da zona euro. Agora, passaram vários meses sem se caminhar para uma solução e a Grécia encontra-se numa situação muito pior do que a que tinha mesmo há dez dias”, afirmou.

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