Lajes desliza para o "lado negro da força" militar americana?

Congressista luso-descendente quer desviar investimento militar de 317 milhões de dólares para os Açores para instalar na Terceira um conjunto de estruturas dos serviços secretos dos EUA.

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Ministério dos Negócios Estrangeiros afirma estar "a acompanhar com atenção" a situação na Base das Lajes Miguel Madeira

Ponto de passagem das escutas americanas a líderes europeus ou tratamento de dados utilizados nos ataques por drones em África. Pode vir a ser esse o destino da Base das Lajes, caso a proposta do congressista luso-descendente, Devin Nunes, acabe por ser aceite pela administração Obama.

No mesmo dia em que a comissão bilateral Portugal/EUA reunia extraordinariamente para analisar o processo de redução de efectivos na Base das Lajes, na mesma cidade, Washington, o Congresso norte-americano votava o orçamento dos seus serviços de informação, onde estava incluída a proposta de suspensão da construção de um complexo no Reino Unido para fundir no mesmo espaço várias agências e organismos dos serviços de informação até ser provado que a Base das Lajes não poderia cumprir essa função. A votação acabou entretanto suspensa. O que permite avaliar afinal o que fariam, a partir dos Açores, os cerca de 1250 funcionários previstos para esse Centro Conjunto de Análise de Informações que o Expresso noticiou no passado mês de Maio.<_o3a_p>

Pela reacção de alguns políticos ingleses às notícias iniciais sobre a instalação dessa estrutura em Coughton (há um ano), a possível futura missão das Lajes pode revelar-se ainda menos inocente do que a anterior missão militar da base açoriana.<_o3a_p>

De acordo com o jornal britânico Independent, a base de Croughton foi utilizada para transmitir para Washington dados recolhidos pela rede de espiões americana, sedeada nas embaixadas, que foi responsável, nomeadamente, pelo incidente diplomático resultante da descoberta das escutas telefónicas à chanceler alemã, Angela Merkel, realizadas pela National Security Agency.<_o3a_p>

Além disso, entre os seis serviços planeados para serem instalados nesse futuro Centro Conjunto de Análise de Informações está o Defense Intelligence Agency. Que é apontado por alguns peritos como uma das estruturas responsável pelo suporte aos ataques feitos por drones a partir do ar, a que a administração de Obama recorre para eliminar ameaças terroristas em África.<_o3a_p>

Num relatório interno do Departamento de Defesa sobre a concentração dos serviços de informações nessas futuras instalações, escrevia-se que essa decisão permitiria “um suporte de classe mundial” para actividades como “operações militares globais”.<_o3a_p>

Foi tudo isto que levou o deputado trabalhista Tom Watson a classificar os planos como uma “revelação chocante”: “Não restam agora quaisquer dúvidas sobre a necessidade de reavaliar as actividades na base, e de que o acordo que gere o uso da base deve ser revisto”, disse. <_o3a_p>

O plano original de juntar todos os serviços de informações da superpotência mundial num mesmo local tornaria Croughton no maior deste género fora do território norte-americano. A sua construção está orçamentada em 317 milhões de dólares, cerca de 281 milhões de euros. E foi Devin Nunes – que preside ao comité  dos Serviços de informações na Câmara dos Representantes – quem avançou com a proposta de se avaliar a possibilidade de deslocalizar o Centro para as Lajes. 

O que aconteceu depois de uma visita aos Açores de congressistas e militares norte-americanos, onde foram recebidos pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Rui Machete, a secretária de Estado da Defesa, Berta Cabral, além do presidente do Governo Regional.<_o3a_p>

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"A Câmara dos Representantes já disse de forma clara que a base das Lajes deve ser reaproveitada. É alarmante que o Departamento de Defesa queira levar os contribuintes numa viagem louca, gastando centenas de milhões de dólares a construir em outros locais infra-estruturas que já existem nas Lajes", afirmou esta terça-feira à agência Lusa Devin Nunes.<_o3a_p>

Ainda assim, essa é uma possibilidade ainda remota. Além da aprovação na Câmara dos Representantes, a proposta tem de ser aprovada no Senado e passar pelo crivo da administração Obama. 

Entretanto, a reunião da Comissão Bilateral decorria ainda à hora do fecho desta edição, não tendo sido possível confirmar se esta questão foi um dos temas abordados. Portugal esteve representado pelo director-geral de Política Externa, Francisco Duarte Lopes, e pelo presidente do governo regional dos Açores, Vasco Cordeiro.<_o3a_p>

Foi a 8 de Janeiro deste ano, que o então secretário da Defesa dos Estados Unidos, Chuck Hagel, confirmou a redução de 500 efectivos da base aérea portuguesa nas Lajes.<_o3a_p>

No mesmo dia, o embaixador norte-americano em Lisboa explicou que o objectivo era reduzir gradualmente os trabalhadores portugueses de 900 para 400 pessoas ao longo deste ano e os civis e militares norte-americanos passarão de 650 para 165.<_o3a_p>

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