Projecto nas escolas do Porto sensibiliza os miúdos para a arte aos "gritos"

Projecto artístico encomendado pela câmara municipal envolve 16 escolas dos 14 agrupamentos do Porto. E vai levar 350 alunos a “gritar” em público, num espectáculo de rua a 10 de Junho que será, afinal, uma mostra do projecto educativo da cidade

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Fotos Maria João Gala

O garrafão de água de sete litros está recortado e pintado nas pontas e agora, no alto de uma cana, é uma gaivota, ora nas mãos do Gonçalo ou da Beatriz ou da Mariana ou de qualquer um dos 26 alunos do 4º ano da Escola Básica das Flores. Rui Sousa, o director artístico do projecto Grito, vai-lhes explicando que a Gaivota no cima do cana é uma extensão do corpo deles, e que eles, agora, só têm de sentir a música e levar a gaivota a voar, ou a mergulhar no rio para apanhar peixe. Eles são a marioneta e cada uma das marionetas vai ajudar a compor uma historia que, equipa artística e alunos, estão a construir. “E eles [os alunos] são muitas vezes bem mais criativos do que nós poderíamos ser. Nós só temos de ouvi-los”, diz Rui Sousa, o marionetista.

E eles têm muito a dizer. As aulas “são sempre diferentes”, e todas as semanas “aprendem uma coisa nova”. Fazer a mesma pergunta ao Gonçalo à Beatriz ou à Mariana devolve, invariavelmente, a mesma resposta. O que é que lhes traz este Grito? “Entusiasmo!!!”, é a palavra que repetem, sempre que falam do envolvimento que estão a ter. Eles, que gostam muito da professora Márcia, a responsável pela turma, dizem que o dia de quarta-feira, quando o Grito chega à escola, é sempre o melhor de todos. 

O projecto Grito - que ontem, numa altura em que está exactamente a meio, abriu as portas aos curiosos pela primeira vez - envolve 350 alunos de 16 escolas do Porto e é, segundo Guilhermina Rego, vice-presidente e vereadora da Educação da Câmara do Porto, “uma forma de alargar a oferta educativa com um carácter diferenciado" e sobretudo, é “um projecto educativo da cidade”. O repto de dar um palco às crianças de todas as escolas surgiu da autarquia que, refere a vereadora, precisou de dispender um montante “modesto” para a amplitude do projecto: “São 45 mil euros do orçamento autárquico. Se tivermos em conta o numero de alunos [350], professores [36] e turmas [17], formadores[5] número de sessões (180]  e o resultado de todo este trabalho parece-nos bom. É um montante até modesto”, considera. E admite, mesmo, que possam surgir outros “Gritos” depois deste.

A vereadora ficou muito satisfeita com a adesão que obteve ao repto lançado a todos os 14 agrupamentos de escola que estão abrangidos pelas fronteiras geográficas do concelho. E Manuel Lima, director de um desses agrupamentos - o Agrupamento de Escolas Alexandre Herculano, e que integra a Escola Básica das Flores - disse aos jornalistas ter muito a agradecer pelos desafios que lhe são lançados pelo executivo municipal e “pela possibilidade de pôr todas as escolas a participar num mesmo evento, lado a lado”. Mas também pelo carácter pluridisciplinar do evento e, sobretudo, pela maneira como através dele estão a permitir que se desenvolva um vínculo relevante entre a criança e a escola. “Estão numa fase crucial ao nível da aprendizagem dos comportamentos e das atitudes e é muito gratificante ver a forma como professores, alunos e pais têm correspondido aos desafios que lhes são lançados”, explica.

Os alunos envolvidos no projecto estão a ter formação artística em oito áreas: artes circense, artes plásticas, expressão dramática, formas animadas, marionetas, movimento, música e teatro fisico. E, diz a equipa artística responsável pelo projecto, a ideia não é mostrar as crianças, nem transformá-las em palhaços de um circo comandado por adulto. Serão palhaços, músicos, actores cantores, bailarinos de um espectáculo “criado por eles, e para eles”, sintetiza Rui Sousa.

Mariana já subiu a um palco, “num espectáculo da catequese”; a Beatriz também já esteve no palco do Rivoli, “numa apresentação da escola”; para o Gonçalo vai ser a mais absoluta novidade. Mas por enquanto o que ele mais gostou, foi de estar a construir os barquinhos e as gaivotas, e tudo o que os “animadores” (“eles são todos muito fixes!”, diz) lhe pedirem para inventar. Quanto à história que vão mostrar no dia 10 de junho, não sabem quase nada. “Sabemos que há a história de um rio, mas o resto ainda vamos descobrir”, conta Mariana, a única dos três que já tem dez anos, feitos no mês passado. Será que podem descobrir que têm talento para o palco e para as artes, já que nenhum dos três alguma vez frequentou aulas de música, de dança ou de teatro? Não sabem. E Gonçalo até desconfia que não. O que ele sabe é que quer ser camionista. E que vai gostar que a irmã mais velha e os pais estejam na Praça D. João I a vê-lo representar. Mesmo que ainda não saiba o quê. Beatriz diz que se houvesse um texto, gostaria de ser ela a ler. Mariana limita-se a dizer que vai gostar de qualquer coisa em que possa participar. “É sempre tudo tão divertido!”. Ainda faltam muitas semanas para o 10 de Junho?

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