Kim Jong-un disponível para reunião "de alto nível" com a Coreia do Sul

Seul considera "significativa" a mensagem de Ano Novo do líder norte-coreano. Última cimeira entre líderes dos dois países aconteceu em 2007.

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Kim Jong-un a falar na televisão, retransmitido em écrã gigante numa estação de comboio JUNG YEON-JE/AFP

O anúncio foi feito na mensagem de Ano Novo, um momento tradicionalmente escolhido pela liderança norte-coreana para tornar pública a sua política para os 12 meses seguintes, mas que só depois da chegada ao poder de Kim Jon-un, em 2011, passou a ser transmitido de viva voz: Kim Jong-il, o pai do actual líder, comunicava com o povo através de editoriais publicados nos jornais. Só por uma vez a televisão estatal difundiu a sua voz.

“Se as autoridades sul-coreanas querem sinceramente melhorar as relações entre Norte e Sul, podemos retomar as reuniões ao mais alto nível”, afirmou o terceiro líder da dinastia Kim do regime de Pyongyang, dizendo que, da sua parte, “tudo fará para fazer avançar o diálogo e as negociações”.

A imprensa a sul do paralelo 38N interpretou as palavras de Kim Jong-un como um sinal de disponibilidade para se reunir com a Presidente sul-coreana, Park Geun-Hye, um convite que não está, no entanto, explícito na mensagem difundida pela televisão norte-coreana. O último encontro entre líderes dos dois países aconteceu em 2007, na capital-norte-coreana, reunindo o sul-coreano Roh Moo-hyun, que viria a morrer pouco depois, e Kim Jong-il. Todas as tentativas feitas desde então esbarraram sempre nos frequentes episódios que alimentam a tensão entre as duas nações irmãs, que continuam formalmente em guerra, e é provável que o mesmo suceda com esta nova iniciativa.

“O Governo sul-coreano considera que [a mensagem] é significativa pois revela uma disponibilidade para o diálogo”, reagiu o ministro para a Reunificação, Ryoo Kihl-jae, citado pela agência Yonhap. Na segunda-feira, o responsável tinha proposto o reinício das negociações, a partir de Janeiro, adiantando que Seul estava disponível para enviar representantes ao Norte ou receber uma delegação de Pyongyang no seu território. As últimas negociações formais entre os dois países aconteceram em Fevereiro do ano passado, e permitiram os sempre muito emotivos encontros de famílias separadas pela guerra (1950-53).

As duas lideranças continuam a impor difíceis condições ao diálogo. Park, no poder desde 2013, diz que Pyongyang deve provar que está disposta a abandonar o seu programa nuclear, Pyongyang quer Seul abdique dos exercícios militares com os EUA que Kim Jong-un disse nesta quinta-feira serem “uma fonte de tensão que aumenta a ameaça de uma guerra nuclear” na península.

Foi uma das farpas dirigidas aos EUA, com quem esteve nas últimas semanas envolvido numa acesa disputa, depois de Washington ter atribuído a Pyongyang a autoria do ataque informático à Sony Pictures, produtora do filme The Interview, uma comédia sobre uma tentativa de assassinato do líder norte-coreano, cuja estreia chegou a estar suspensa.

Kim não se referiu à polémica, nem ao apagões informáticos que o país registou na semana passada, mas denunciou o apoio dos EUA para que o relatório do Conselho dos Direitos Humanos da ONU, que em Fevereiro acusou o regime norte-coreano de “violações sem igual no mundo contemporâneo”, seja levado ao Tribunal Penal Internacional. “Os EUA e os seus discípulos usam a vil farsa dos direitos humanos porque todas as suas manigâncias para destruir a nossa força de dissuasão nuclear e vergar a República se tornaram irrealizáveis”, afirmou.

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