Quase mil imigrantes salvos no Mediterrâneo

Um barco de mercadorias sem tripulação seguia na direcção da costa italiana antes de ser resgatado pela Marinha italiana. Autoridades perguntam-se como podem ter sido transportados 970 clandestinos numa embarcação desta envergadura.

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O barco chegou ao porto de Gallipoli durante a madrugada de quarta-feira Nunzio Giove / AFP

O ano termina como um dos mais mortíferos para os imigrantes ilegais nas águas do mar Mediterrâneo, com mais de três mil mortes. Mas o saldo poderia ser ainda mais elevado nos derradeiros dias de 2014. Um barco de mercadorias que transportava mais de 900 pessoas foi resgatado pela Marinha italiana, que evitou uma nova “hecatombe”.

O Blue Sky M foi encontrado ao início da noite de terça-feira à deriva perto da ilha grega de Corfu sem os membros da tripulação. O desastre esteve perto de acontecer à medida que a embarcação se aproximava da costa rochosa.

“Uma hecatombe foi evitada, mais de 900 migrantes salvos num barco com o motor bloqueado e que se dirigia rumo à costa da Apúlia [região no sudeste italiano]”, publicou a guarda costeira italiana na sua conta de Twitter esta manhã.

Por volta das 3h30 da manhã (menos uma hora em Portugal continental), o barco aportava em Gallipoli, na costa italiana, onde dezenas de pessoas desembarcaram e foram levadas para várias escolas onde pernoitaram. Para o hospital foram transportadas 35 pessoas, algumas das quais sofriam de hipotermia, revelou a Cruz Vermelha. Inicialmente a organização revelou terem sido encontradas quatro pessoas mortas no interior do navio, mas, horas depois, veio retirar essa informação e afirmou que não foi encontrada qualquer vítima mortal.

“Foi uma verdadeira corrida contra o tempo. Desbloquear os motores foi uma operação difícil e delicada, mas eles conseguiram”, explicou à AFP o porta-voz da guarda costeira italiana, Filippo Marini.

Permanecem, porém, muitas dúvidas sobre o incidente. As autoridades gregas foram as primeiras a serem alertadas, durante a tarde de terça-feira, depois de alguém ter enviado um pedido de SOS a partir do barco, dizendo estarem a bordo “homens armados”.

A Marinha grega enviou uma fragata e um helicóptero e a polícia marítima despachou dois barcos patrulha para responder ao pedido de socorro. As forças de segurança não encontraram “nenhum problema [mecânico] e nada de suspeito no barco”, disse à AFP uma responsável do departamento de comunicação da polícia marítima.

A intervenção das autoridades italianas ocorreu algum tempo depois, com o envio de um helicóptero e de uma lancha da Marinha. O barco de mercadorias seguia em direcção à costa italiana com o motor bloqueado, sem tripulação e com “700 pessoas” a bordo, segundo a primeira estimativa, identificadas como imigrantes clandestinos.

As nacionalidades ainda não foram reveladas, mas um homem que viu o barco a chegar a Gallipoli disse à BBC tratarem-se sobretudo de refugiados sírios e curdos. “Tenho um amigo na protecção civil que me disse que estão cerca de 800 a 900 pessoas dentro do navio. Não podemos confirmar se há mortos no interior, mas o meu amigo disse-me que havia quatro ou cinco pessoas mortas”, contou ainda Gilberto Busti.

O resgate de embarcações lotadas com imigrantes ilegais em direcção a Itália – provenientes sobretudo do Médio Oriente e do Corno de África – é algo de rotineiro no Mediterrâneo. No entanto, é incomum que um barco de transportes de mercadoria de grande envergadura, como é o caso do Blue Sky M, seja utilizado para estes fins. Normalmente são utilizadas pequenas embarcações em condições muito precárias.

Nessas travessias, a tripulação acaba frequentemente por abandonar o barco antes de alcançar a costa, para evitar a prisão.

Outra incógnita é o percurso do Blue Sky M. Segundo as autoridades, o destino do barco de bandeira moldava era o porto de Rijeka, na Croácia, e a sua proveniência seria a Turquia, embora esta última informação ainda não tenha sido confirmada.

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