Mediterrâneo é a rota mais mortífera do mundo

Pelo menos 3419 pessoas morreram este ano a tentar chegar à Europa atravessando o mar, diz ONU.

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Os migrantes usam muitas vezes embarcações sem quaisquer condições para atravessar o Mediterrâneo AFP

Em 2014, o Mediterrâneo tornou-se “a rota mais mortífera do mundo”, com pelo menos 3419 mortes de migrantes que tentavam chegar à Europa, um número recorde, anunciou a Agência da ONU para os Refugiados (ACNUR).

Desde o início do ano, mais de 207 mil migrantes tentaram esta rota para fugir para a Europa, um número três vezes mais alto do que o anterior recorde de 2011, ano das chamadas primaveras árabes, em que 70 mil pessoas fugiram dos seus países.

“Estes números são uma nova etapa”, disse Adrian Edwards, porta-voz do ACNUR. “Enfrentamos um arco de conflitos e a Europa é directamente confrontada.” Há guerras a sul, na Líbia; a sudeste, na Síria; e a leste, na Ucrânia.

Quase 80% das partidas são feitas através da Líbia, tendo como destino Itália ou Malta, indica ainda o ACNUR. Quanto ao país de partida, a maioria dos migrantes que chegaram a Itália são sírios, fugindo de uma cada vez mais brutal guerra civil; e eritreus, tentando escapar a uma repressão brutal do poder, serviço militar durante toda a vida ou trabalho forçado.

O ACNUR criticou a gestão que vários países europeus fazem da imigração, lamentando que o foco de muitos seja manter os estrangeiros longe das suas fronteiras. “É um erro, e é precisamente uma má reacção num período em que um número recorde de pessoas fogem da guerra”, disse o alto-comissário António Guterres. “Todos os países têm preocupações de segurança e gestão da imigração, mas as políticas devem ser concebidas para que não levem a que vidas humanas sejam danos colaterais”, avisou.

Em Novembro, depois do final da operação italiana Mare Nostrum, foram socorridos 8000 migrantes. A Itália anunciou o final da operação, que levou a cabo após a tragédia de Lampedusa, dizendo que esta tinha carácter de urgência e não podia ser mantida para sempre, especialmente face à pouca contribuição dos seus parceiros europeus. Uma nova operação, chamada Tritão, gerida pelo Frontex, agência europeia de vigilância das fronteiras da União Europeia, substituiu a Mare Nostrum, mas tem um âmbito mais limitado e organizações de defesa dos direitos humanos temiam que o número de vítimas no mar aumentasse.

O ACNUR aponta ainda que para além do Mediterrâneo, pelo menos 348 mil migrantes em todo o mundo tentaram atravessar um mar, outro número recorde. No Golfo de Neguela, no Sudeste asiático, houve pelo menos 540 vítimas entre as 54 mil pessoas que tentaram atravessar, a maioria vindas do Bangladesh ou Birmânia para a Tailândia ou Malásia. No Mar Vermelho e Golfo de Áden, morreram pelo menos 242 pessoas, e nas Caraíbas 71.

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