Marina Silva impõe condições para apoiar a candidatura de Aécio Neves

Imprensa brasileira dá como certo o apoio da ambientalista ao candidato do PSDB. Ideia é impedir a reeleição da Presidente Dilma Rousseff.

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Marina Silva deverá anunciar o seu apoio a Aécio Neves AFP/YASUYOSHI CHIBA

A candidata presidencial Marina Silva, que arrecadou 21% dos votos na eleição de domingo e ficou afastada da disputa da segunda volta, estará a preparar o terreno para uma declaração formal de apoio à candidatura do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), encabeçada por Aécio Neves.

Segundo a imprensa brasileira, a candidata está em discussões com os coordenadores da sua campanha, com os dirigentes do seu movimento político rede Sustentabilidade e com a direcção do Partido Socialista Brasileiro (PSB), que liderou a coligação pela qual se apresentou ao eleitorado, para acertar a orientação política relativa à segunda volta eleitoral.

No entanto, avança a Folha de São Paulo, a ambientalista já terá “sinalizado” que tenciona declarar o apoio a Aécio, deixando claro que se esse não for o consenso no PSB e restantes siglas que compõem a coligação Unidos pelo Brasil, o fará a título individual. A ideia é impedir a reeleição da Presidente Dilma Rousseff e a manutenção do Partido dos Trabalhadores (PT) no poder.

O Estadão confirma que a decisão de Marina está tomada, e indica as condições que a candidata que ficou pelo caminho impõe para oficializar a sua adesão à campanha de Aécio, através da assinatura de um “acordo programático”. Segundo o diário, Marina terá exigido um “compromisso formal”, através da inclusão das suas propostas nas áreas do ambiente e da educação no programa de governo do candidato tucano, e ainda da insistência da campanha nos pontos comuns entre as duas candidaturas – nomeadamente, na ideia do fim da reeleição.

Esta terça-feira em São Paulo, Aécio Neves repetiu que “não morre de amores pela reeleição” e que a sua plataforma política defende um mandato único de cinco anos para todos os cargos públicos. “É uma questão a ser discutida”, disse, notando que para a ideia vingar, “precisa de haver entendimento no Congresso Nacional”.

No domingo à noite, ao reagir aos resultados eleitorais, Marina deixou bem claro que uma aproximação à candidatura da Presidente Dilma Rousseff e ao PT estava totalmente fora de causa. A mágoa que a campanha provocou na candidatura foi patente nas declarações do seu companheiro de chapa, Beto Albuquerque, o homem do PSB que corria pela vice-presidência. “Quem joga sujo na eleição não terá o nosso voto”, frisou, referindo-se ao PT.

Fazendo eco das palavras de Aécio, que imediatamente se posicionou como o depositário do sentimento do eleitorado que exige a mudança no país, Marina sublinhou que os brasileiros provaram nas urnas a sua rejeição “do que está aí” e o seu desejo de uma "nova política".

O PSB indicou que a decisão sobre os apoios para a segunda volta será anunciada até ao fim desta semana. O partido está dividido entre a facção que mantém uma ligação ao PT (os socialistas fizeram parte da base aliada e ocuparam cargos ministeriais tanto nos governos de Lula da Silva como no anterior mandato de Dilma Rousseff) e os que se inclinam para o apoio ao PSDB.

Roberto Amaral, que assumiu a presidência do PSB após a morte de Eduardo Campos, é um dos mais próximos do PT, mas em declarações ao Estado de São Paulo não afastou a hipótese de um apoio à candidatura de Aécio Neves. “As alianças são tácticas e, se não prejudicarem o avanço do partido, são válidas. O fundamental é estar envolvido num processo de progresso e de crescimento. Às vezes, um reaccionário serve de avanço”, comentou.

A deputada e antiga autarca de São Paulo, Luiza Erundina, que esteve na coordenação da campanha de Marina, é defensora da neutralidade do partido. “Há grupos que querem Aécio Neves e outros que pretendem apoiar a Dilma. Tomar uma posição única seria ruim, dividiria o partido. O melhor seria liberar [o voto] para que cada militante, filiado ou dirigente possa tomar a sua decisão”, afirmou à Folha de São Paulo. “Temos de ser minimamente coerentes. Se na campanha dissemos que queríamos mudança, e propusemos o fim da polarização, não devemos agora apoiar um dos pólos”, considerou.

Os jornais brasileiros adiantavam ainda que emissários de Aécio Neves estão em conversações com a família de Eduardo Campos (os dois eram amigos), no sentido de anunciar um apoio formal à candidatura. A adesão do PSB pernambucano e da família do popular ex-governador é fundamental para as pretensões de Aécio naquele estado, onde obteve apenas 6% dos votos válidos. Em 2010, com o apoio de Campos, Dilma Rousseff venceu em 100% dos municípios de Pernambuco.

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