Lavrov insiste que solução para a Ucrânia passa por uma federação

Kiev rejeita a ideia, aconselhando Moscovo a "parar de ditar ultimatos a um país soberano e independente". Ministro russo e Jonh Kerry já estão a falar, em Paris.

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Serguei Lavrov e John Kerry já estão a falar sobre o futuro da Ucrânia MATTHIEU ALEXANDRE/AFP

Horas antes do encontro com o secretário de Estado norte-americano, em Paris, o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Lavrov, voltou a insistir que uma solução diplomática para a crise na Ucrânia – e para a tensão militar na fronteira com a Rússia – terá de passar pelo reconhecimento da autonomia das regiões do Sul e do Leste, no quadro de um Estado federal. Kiev veio já rejeitar liminarmente a proposta.

A “federalização” da Ucrânia assume-se, de forma cada vez mais clara, como a peça central do plano de Moscovo para o desanuviamento da crise que fez renascer na Europa o clima da Guerra Fria. “[Só uma estrutura federal] protegerá os direitos dos que vivem na Ucrânia e principalmente da população russa, que é quem nos preocupa”, disse o chefe da diplomacia de Moscovo, pouco antes de partir para Paris.

Sábado, no rescaldo do telefonema entre os presidentes Vladimir Putin e Barack Obama, Lavrov tinha já dito que a Rússia “não vê, francamente, outro caminho para o desenvolvimento sustentável do Estado ucraniano que não seja a federalização”, em que as regiões possam decidir sobre “as ligações económicas e culturais com as regiões e os países vizinhos.” Agora, o ministro russo propõe que americanos e europeus adiram à ideia para, em conjunto, “formularem uma proposta aos que estão agora no poder”. Um convite ao diálogo feito “a todas as forças políticas ucranianas, à excepção naturalmente dos radicais armados”.

Vários diplomatas reconhecem que é vital a concessão de maior autonomia às regiões de maioria russófona, onde são muitos os que não se revêem no rumo tomado pelo Governo interino ucraniano, dominado pela oposição pró-ocidental, e temem um afastamento da esfera de influência russa.

Mas a ideia não consta do plano apresentado pelos Estados Unidos (centrada no recuo das tropas russas e no envio de monitores internacionais para as regiões russófonas) que está em cima da mesa no encontro deste domingo entre Lavrov e John Kerry – os dois responsáveis já chegaram à residência do embaixador americano em Paris. E, mais importante do que isso, é liminarmente rejeitada por Kiev. “Gostaríamos que a Rússia parasse de ditar ultimatos a um país soberano e independente e centrasse a sua atenção na situação catastrófica e na total ausência de direitos das suas próprias minorias, incluindo a ucraniana”, reagiu o Ministério dos Negócios Estrangeiros, em comunicado.

Evocando também a proposta feita por Lavrov para que Kiev voltasse a reconhecer o russo como segunda língua oficial do país, a nota questiona por que não faz Moscovo o mesmo como as outras línguas faladas no seu país. “O ucraniano é a língua de milhões de cidadãos russos”, afirma o comunicado, convidando o Governo russo para a “deixar de pregar para os outros” e a “olhar para o que se passa no seu próprio país”.
 

  

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