Ianukovich ainda se encontra na Ucrânia, segundo as autoridades

Procurador-geral adjunto tem informações de que Presidente deposto não abandonou o país. Forças de elite antimotim foram dissolvidas.

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As Berkut estiveram na linha da frente da repressão ordenada por Ianukovich Vasily Fedosenko/Reuters

Viktor Ianukovich, em fuga desde o fim-de-semana, ainda se encontra na Ucrânia, revelou esta quarta-feira o procurador-geral adjunto, Mikola Golomcha. "Dispomos de informações segundo as quais Ianukovich ainda está na Ucrânia", afirmou Golomcha, de acordo com a AFP. A procuradoria vai emitir igualmente um pedido para um mandado de captura internacional.

De manhã foi anunciada a dissolução das temíveis Berkut, as forças antimotim que, para os manifestantes ucranianos, eram sinónimo de brutalidade. “As Berkut já não existem”, escreveu o ministro do Interior interino, Arsen Avakov, na sua página de Facebook. As unidades antimotim de elite, parte das forças de segurança da Ucrânia, foram dissolvidas.

Reconhecíveis pelos seus uniformes próprios, com uma águia branca na insígnia exibida nas costas ("berkut" significa águia real), havia uma unidade das Berkut em cada região e em todas as principais cidades do país. Foram o símbolo da repressão das autoridades nos protestos dos últimos três meses.

Há imagens de membros das Berkut a disparar balas reais contra a multidão nos confrontos da semana passada: pelo menos 82 pessoas morreram na violência que acabou por provocar a destituição do Presidente Viktor Ianukovich, actualmente desaparecido, e a chegada ao poder da oposição.

O Presidente interino, Olexksander Turchinov, assumiu entretanto a chefia das Forças Armadas, pode ler-se no site da presidência.

A decisão foi anunciada enquanto prosseguem as consultas para a formação de um governo de transição, inicialmente prevista para terça-feira, adiada depois para quinta e agora anunciada para a tarde desta quarta-feira.

"É preciso que a decisão seja tomada na quinta-feira, não podemos esperar mais tempo”, dissera Olexksander Turchinov ao Parlamento, órgão que tem a cargo a formação e aprovação do novo executivo. Valeri Patskan, deputado do partido Udar, de Vitali Klitschko, assegura que a composição do novo executivo será anunciada às 19h (17h em Lisboa) diante dos manifestantes na Praça da Independência de Kiev, centro dos protestos.

Vitali Klitschko, antigo campeão mundial de boxe, foi um dos líderes da contestação e é já candidato às eleições presidenciais antecipadas, previstas para 25 de Maio.

O adiamento, decidido na terça-feira, explica-se em parte com os protestos dos ucranianos que continuam a encher a Praça da Independência e com as objecções de alguns membros do Parlamento que defenderam que se estava a avançar demasiado depressa, escreve o jornal The Washington Post.

Apoio do Ocidente

Ainda na terça-feira, os novos responsáveis políticos mereceram um voto de confiança da União Europeia, com a chefe da diplomacia, Catherine Ashton, a demonstrar “um forte apoio” às novas autoridades, ao mesmo tempo que pedia a formação de um governo “inclusivo”. Ashton pediu ainda à Rússia, que não reconheceu legitimidade aos novos líderes, que dê “o seu apoio para assegurar que o país pode prosseguir da maneira que desejar”.

Em Washington, o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, também apelou à Rússia e a todos os países que trabalhem para ajudar a manter a estabilidade na Ucrânia.

“Isto não é um jogo, não é o Ocidente contra o Leste, isto são as pessoas da Ucrânia a fazer as suas escolhas sobre o futuro que querem. Nós queremos trabalhar com a Rússia e com outros países, com toda a gente disponível, para garantir a paz deste dia em diante”, disse Kerry, após um encontro com o ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, William Hague. “Estamos ambos decididos a fazer a nossa parte para apoiar os esforços do povo da Ucrânia.”

A Rússia anunciou entretanto que vai dar início a exercícios militares na região oeste do país, naquela que foi uma ordem directa do Presidente russo, Vladimir Putin, segundo a Interfax. O objectivo é testar a capacidade de resposta das forças armadas, segundo a Reuters.

Manifestações opostas na Crimeia

Na região autónoma da Crimeia (sul da Ucrânia) a tensão subiu esta quarta-feira, depois de dois grupos de manifestantes se terem cruzado, apesar de não ter havido confrontos sérios.

Cerca de duas mil pessoas, muitas delas de origem tártara, estão concentradas em frente ao Parlamento regional, em Smiferopol, numa demonstração de apoio ao movimento da Praça da Independência.

Um outro grupo de cerca de 700 pessoas, segundo a Interfax-Ucrânia, composto por russos étnicos, dirigiu-se para o mesmo local. Os dois grupo estão separados por dois cordões policiais, mas que são, episodicamente, rompidos por algumas pessoas que acabam por se envolver em pequenas escaramuças.

A Crimeia é a única região da Ucrânia em que a maioria da população tem origem russa e desde a deposição de Ianukovich que tem acenado com a ameaça de separatismo. A Rússia tem publicamente defendido a manutenção da integridade territorial do país.

No entanto, o chefe da comissão para as ex-repúblicas soviéticas da Duma (Parlamento russo), Leonid Slutski, numa visita esta semana à região, afirmou que Moscovo irá "tomar quaisquer medidas para defender os interesses dos seus compatriotas que residem na Crimeia".

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