Portas rejeita mais cortes nos salários e exorta empresas a partilharem resultados

Líder centrista foi ao Porto defender que este é também o momento de os empresários pensarem em Portugal e investirem no país.

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Adriano Miranda/Arquivo

No mesmo dia em que se soube que Bruxelas entende que os salários médios em Portugal devem sofrer ainda uma redução de mais 5%, o vice-primeiro-ministro e líder do CDS, Paulo Portas, foi ao Porto dizer aos militantes do partido que “o sector privado já adequou os custos do trabalho" e que não vê "necessidade adicionais nessa matéria".

À mesma hora que, o PSD, em congresso, declarava que não perdera a matriz social-democrata, o líder do CDS sublinhou na noite desta sexta-feira que o seu partido também um ideário socialmente comprometido, chegando a defender que, numa altura em que surgem indicadores económicos mais animadores, os empresários devem “partilhar resultados” e sobretudo investir, em Portugal. Estas ideias corresponderam, aliás, às passagens mais aplaudidas do discurso proferido por Portas no jantar-comício na Fundação Cupertino de Miranda, que serviu para formalizar a recondução Pedro Moutinho, reeleito em Dezembro, na liderança da concelhia.

"Assim como dizemos que as empresas não são o lugar para a luta de classes (...) e assim como dizemos que, quando uma empresa ganha isso é bom para o trabalhador, também dizemos que o sector privado em Portugal já fez ajustamento salarial e já adequou os custos do trabalho". "É preciso então sublinhar aquilo que o nosso partido muitas vezes tem dito - nós não acreditamos num modelo de desenvolvimento baseado em salários baixos", afirmou o lider nacional do CDS, para logo proclamar: "O sector privado português já ajustou, já adequou os custos do trabalho, não há necessidades adicionais nessa matéria.

O vice-primeiro-ministro referiu-se sempre exclusivamente aos salários do sector privado e nunca aludiu ao facto de o relatório da Comissão Europeia revelado na quinta-feira prescrever também um corte permanente nos salários na função pública. Aquilo em que o discurso de Portas investiu, imediatamente a seguir, foi em dar base ideológica à defesa do nível salarial dos trabalhadores do privado.

"Nós, como sabem, acreditamos na economia social de mercado e nessa economia tão importante é o mercado como o social". Destacou a importância do "sentido de compromisso dentro da empresa, de compromisso de resultados, de partilha desses resultados", disse o líder centrista, para fazer também um apelo ao investimento.

"Nós no CDS acreditamos na iniciativa privada, nas empresas portuguesas, olhamos pelas empresas portuguesas, acreditamos que o investimento, seja nacional ou estrangeiro, é a condição do crescimento e aquilo de que Portugal mais precisa". Enfatizou que a quebra de investimento é "o indicador mais crítico de Portugal nos últimos dez anos", sinal de que o país "dormiu na forma e perdeu competitividade", e defendeu que "é preciso agarra com as duas mãos" os sinais que apontam para a recuperação e "explicar, lá fora e cá dentro, que este é o momento para olhar para Portugal e para tentar investir  em Portugal".

Paulo Portas não se alongou nas referências às eleições para o Parlamento Europeu, cuja lista conjunta com o PSD está ainda a ser negociada pelos dois partidos. Limitou-se a elogiar Nuno Melo, que o CDS já designou como o seu primeiro candidato, mas que ainda não sabe em que lugar surgirá na lista com que a coligação se apresentará aos eleitores a 25 de Maio. "Com Nuno Melo está o melhor do CDS, pela sua frontalidade, pelas suas convicções, pela sua combatividade política e pela popularidade que conquistou no país", justificou noutro momento.

O CDS completa 40 anos em Julho e Paulo Portas prometeu apresentar, no final de Março, um programa de comemorações no qual a história do partido seja assumida "sem rupturas nem saltos bruscos", incluindo todos os seus líderes, independentemente do trajecto político que estes posteriormente fizeram.

Quanto à história mais local e mais recente do CDS, Pedro Moutinho voltou a congratular-se com a conquista da Câmara do Porto pelo movimento do independente Rui Moreira, que foi apoiado pelos centristas. O presidente da concelhia portuense sublinhou que o partido preparou as auárquicas sem cuidar de saber se o primeiro-ministro era Sócrates ou Passos Coelho e acreditou que,"se trocasse a dependência do PSD pela independência da cidade, podia ganhar". Muito aplaudido pelos militantes centristas foi também o independente Miguel Pereira Leite, eleito na segunda-feira presidente da Assembleia Municipal do Porto, depois da saída de Daniel Bessa, que se demitiu alegando que havia "CDS a mais" no movimento de Rui Moreira.

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