Direcção do Bloco lança campanha interna para recrutar centenas de militantes

Eurodeputada Marisa Matias será apresentada sábado como cabeça de lista às europeias. Partido reconhece que precisa de crescer e define como objectivo conquistar “exército de abstencionistas”.

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BE vai apostar numa lista às europeias "dividida ao meio", que terá quase tantos independentes quanto bloquistas Enric Vives-Rubio

No dia em que o BE se prepara para anunciar formalmente a eurodeputada Marisa Matias como cabeça de lista às eleições europeias, a direcção do partido define este sábado, como objectivo imediato, o aumento “consistente” do número de militantes. Esse desafio deve ser prosseguido através de uma campanha interna a concretizar já nas europeias.

A II Conferência Nacional do partido, sob o tema Bloco mais forte, rejeitar a austeridade, defender o trabalho, o Estado Social e a democracia na Europa, decorre este fim de semana em Lisboa e servirá para preparar o programa do partido para as europeias, discutir aspectos da organização interna e repensar a intervenção autárquica.

Os maus resultados nas autárquicas deixaram nervoso o partido liderado por João Semedo e Catarina Martins, que reconhece que é preciso progredir nos mecanismos de democracia interna, rever aspectos estatutários e criar um grupo de trabalho para organizar o partido.

No projecto de recomendação que vários dirigentes do Bloco levam à conferência, entre eles os próprios líderes do partido, reconhece-se que a estratégia para o poder local tem sido insuficiente e que é preciso mudar o alvo do eleitorado a atingir. Ou seja, é preciso continuar atento ao eleitorado volátil do PS, mas a aposta deve ser conquistar o “vastíssimo exército abstencionista”. É aí, acreditam, que reside um grande potencial de crescimento para o BE.

Nesta recomendação, subscrita também pelo fundador do partido Fernando Rosas, a actual eurodeputada Marisa Matias ou os dirigentes de primeira linha José Manuel Pureza e José Gusmão, além de quatro dos oito deputados, os dirigentes definem como “um objectivo imediato” o aumento do número de aderentes.

Os números pedidos pelo PÚBLICO indicam que o partido triplicou os militantes em dez anos, passando de 3000 filiados em 2001 para 9600 em 2011. Mas no intervalo entre as duas convenções de 2011 e 2012 só se registaram mais 600 inscrições.

Há “centenas de pessoas sem filiação” que representam “uma grande reserva para o crescimento do Bloco” e “é sobre essas pessoas que deve incidir desde já a campanha de recrutamento decidida”, lê-se no documento.

Numa proposta de alteração a esta recomendação subscrita por cerca de duas dezenas de militantes, estes bloquistas criticam um partido demasiado fechado sobre si próprio e que corre o risco de desaparecer. Dizem que o partido “estagnou” e que os novos militantes “mal chegam” para suprir os que se afastam. Porque não pertencem “à corrente certa ou, ainda pior, por ficarem marcados por certos dirigentes”.

Nesta segunda Conferência Nacional que o Bloco organiza em 14 anos e que acontece quando faltam cerca de nove meses para a próxima convenção (ou congresso), o partido faz uma espécie de mea culpa. Admite que uma organização do tipo “piramidal, de cima para baixo” não é democrática e que “precisa de ter iniciativa e ser alternativa, obter forte ligação aos movimentos sociais e tem de ser profundamente democrático, participativo e plural”.

Nas últimas europeias, em 2009, o Bloco elevou a sua própria fasquia e surpreendeu ao eleger três deputados ao Parlamento Europeu. Um deles foi o independente Rui Tavares, que dá agora a cara pelo Livre e que rompeu com o BE ainda na era da liderança de Francisco Louçã.

Certo é que ninguém acredita que esse resultado seja replicável já em Maio. O PÚBLICO sabe que o BE vai apostar numa lista às europeias "dividida ao meio", que terá quase tantos independentes quanto bloquistas.

Nas recomendações para a Europa, o partido revela-se favorável a um referendo ao Tratado Orçamental e considera que um programa cautelar articula “o pior de dois mundos”, na medida em que significa manter a austeridade com o país em piores condições do que estava em 2011 quando começou o programa da troika.


 

   

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