Mario Draghi diz que BCE continua "preparado para agir"

Depois de baixar taxas de juro para novo mínimo, presidente do BCE deixou a porta aberta para novos cortes

Foto
A reunião do conselho de governadores decorreu em Bratislava SAMUEL KUBANI/AFP

Quarenta e cinco minutos depois do anúncio de um corte da principal taxa de juro de refinanciamento do BCE de 0,75% para 0,5%, Mario Draghi deixou claro que o banco central pode ir mais longe num futuro próximo.

O presidente do BCE usou esta quinta-feira, na conferência de imprensa realizada em Bratislava, a mesma frase que, há um mês, tinha servido para avisar os mercados de que um corte da taxa de juro vinha a caminho: "O BCE está preparado para agir, caso seja necessário."

Para justificar o corte desta quinta-feira, Mario Draghi deu duas grandes razões. Por um lado, a taxa de inflação "continua controlada" e dentro dos parâmetros exigidos pelo BCE no médio prazo. Por outro lado, "o sentimento económico negativo que se iniciou no final do ano passado prolongou-se até à Primavera deste ano".

O presidente do BCE não se comprometeu com novas descidas de taxas, mas revelou que, dentro do BCE, as opiniões não são unânimes, havendo quem não concorde com o corte de taxas e quem ache que a redução já deveria ter sido maior este mês. "Existiu uma maioria muito forte com a opinião de que deveria existir um corte e, dentro destes, houve uma maioria muito forte com a opinião de que o corte seria apenas de 0,25%", afirmou o presidente do BCE.

Os mercados reagiram a estas afirmações com uma desvalorização do euro face ao dólar, o que significa que estão à espera de mais cortes de taxas. Uma reacção acentuada pelo facto de Mario Draghi também não ter colocado de lado a hipótese futura de fazer descer a taxa de depósitos do BCE, que actualmente está em zero, para valores negativos.

Na reunião de hoje, os membros do conselho de governadores do BCE - do qual fazem parte os portugueses Vítor Constâncio e Carlos Costa - decidiram colocar a taxa de juro das principais operações de refinanciamento para 0,5%. Esta é a taxa de juro a partir de agora suportada pelos bancos quando recorrem ao BCE para obterem financiamento.

Ao mesmo tempo, o banco central não alterou a taxa de depósitos, que continua a zero. Esta taxa determina o valor pago aos bancos para colocarem os seus excessos de liquidez no BCE. O banco central está a tentar desincentivar os bancos comerciais de guardarem o seu dinheiro no BCE para que o coloquem antes na economia através de empréstimos às famílias e empresas.

O BCE decidiu igualmente prolongar até Julho de 2014, pelo menos, a realização dos empréstimos aos bancos num regime de taxa fixa, e não em regime de leilão, o que significa que os bancos têm, às taxas definidas, acesso ao volume de crédito que quiserem (caso tenham activos para apresentar como colaterais).

O banco central não adoptou hoje novas medidas "não convencionais", aquelas que, não sendo descidas de taxas, podem ajudar a que o crédito chegue à economia. O máximo que Mario Draghi revelou sobre o assunto é que o BCE irá, nas próximas semanas, iniciar contactos com entidades como o Banco Europeu de Investimento e a Comissão Europeia para que se pondere uma eventual compra de activos por parte do BCE. Esses activos poderão ser "pacotes de créditos concedidos pelos bancos". Draghi, contudo, fez questão de frisar que o BCE está apenas a iniciar o estudo desta hipótese.

Notícia corrigida às 16h44
O BCE baixou a taxa de juro das principais operações de refinanciamento para 0,5% e não em 0,5%, como se referia anteriormente.

Sugerir correcção
Comentar