Mercados continuam a empurrar Portugal para uma ajuda externa

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Finanças portuguesas penalisadas pelos mercados PÚBLICO

Mesmo com o BCE a tentar dar uma ajuda, a pressão exercida pelos mercados sobre Portugal acentuou-se durante o dia de ontem, com as taxas de juro da dívida pública a aproximarem-se do seu valor mais alto desde a criação do euro.

Para responder a esta pressão, o Ministério das Finanças já confirmou que vai avançar com uma operação de venda directa de dívida pública, possivelmente destinada à China.

De acordo com os dados do mercado obrigacionista disponibilizados pela agência Reuters, as taxas de juro dos títulos de dívida pública portuguesa a 10 anos cifraram-se ontem nos 7,257 por cento, chegando a situar-se, a meio da sessão, nos 7,294 por cento. Portugal esteve, neste indicador, muito próximo de atingir o máximo de 7,357 por cento registado a 11 de Novembro do ano passado, quando a aprovação do Orçamento do Estado ainda não era certa.

Por trás da subida de taxas de ontem, que prolongou a registada no dia anterior, está, segundo os analistas do mercado, o facto de Portugal, Espanha e Itália terem todos emissões de obrigações agendadas para a próxima semana. Portugal pretende obter, na quarta-feira, um financiamento do mercado situado entre 750 e 1250 milhões de euros.

Os investidores receiam que tantas emissões ao mesmo tempo constituam um teste demasiado exigente à procura de títulos de dívida pública europeus. E, neste capítulo, parece evidente que Portugal é o país de que todos mais desconfiam. As suas taxas de juro são, na zona euro, as mais altas a seguir à Grécia e Irlanda e foram as que mais subiram durante os últimos dois dias. A pressão para que Portugal seja o próximo país a recorrer à ajuda externa proveniente dos parceiros da zona euro e do FMI continua a crescer.

Para evitar ter de recorrer tanto ao mercado para se financiar, o Governo está a tentar encontrar outras soluções. Ontem, à Reuters, o Ministério das Finanças confirmou que irá realizar uma operação de venda directa de dívida pública. Embora não sejam indicados quais são os destinatários desta venda (nem os montantes em causa), a China, que já se mostrou disponível para comprar dívida portuguesa, é uma forte possibilidade.

O ministro das Finanças realizou, no final do ano passado, uma visita à China, precisamente com o objectivo de acertar a forma como a China, através das suas reservas, poderia emprestar dinheiro ao Estado português. A venda directa de dívida pública foi, desde o início, a hipótese mais provável.

Este tipo de operações, já realizadas no passado, são feitas através do acordo directo com investidores relativamente às taxas de juro, prazo e montante da emissão de dívida. O Estado evita, desse modo, passar pela avaliação, que nesta fase é quase imprevisível, dos mercados num leilão de dívida com desfecho desconhecido à partida. Nas operações realizadas na primeira metade de 2010, a presença dos investidores asiáticos já tinha sido significativa.

Enquanto a China não dá a sua ajuda, o BCE continua, de acordo com notícias publicadas ontem pela agência Bloomberg, a ser o principal apoio disponível, intervindo no mercado e comprando títulos de dívida pública portuguesa, principalmente de prazos mais curtos. O banco parece ter conseguido conter as subidas de taxas nos títulos a um ano e dois. No caso da Grécia e Irlanda foi precisamente a subida repentina de taxas nestes prazos que sinalizou a inevitabilidade de uma intervenção externa.

Durante o dia de ontem, o clima negativo no mercado obrigacionista reflectiu-se na Bolsa de Lisboa, que teve mais um dia para esquecer e foi a que mais caiu entre as praças europeias, com uma desvalorização de 3,02 por cento. Os bancos, que têm o acesso ao financiamento externo condicionado pelo que acontece ao Estado, foram fortemente penalizados. As acções do BCP e do BES foram as que mais caíram entre os títulos do PSI 20, com quedas, respectivamente, de 5,59 e 5,25 por cento.

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