Sovena aposta nos EUA e Brasil

Foto
Jorge de Melo abre novos horizontes para o grupo Rui Gaudêncio

O mercado português é demasiado pequeno para sustentar a Sovena.

Se dependesse apenas do mercado nacional para vender os seus produtos de azeite e óleo alimentar, a Sovena já tinha deixado de existir.

Essa convicção, que não é de agora, fez com que hoje os números deixem a Sovena numa situação mais confortável. De acordo com os dados do gestor de 36 anos e representante da quarta geração da família Mello neste negócio (Alfredo da Silva, o fundador da CUF e trisavô do vice-presidente da Sovena, incluía o azeite entre os seus negócios), os mercados externos valem 80 por cento do negócio.

Tal como as vendas, a performance da empresa também melhorou entre 2007 e 2008, com as receitas antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebidta) a crescerem de 35 para 39 milhões de euros. No ano passado, embora a empresa ainda não possa revelar as contas por ainda não estarem fechadas, Jorge de Melo avança que houve "uma melhoria da saúde financeira da empresa".

Uma vez que Portugal é um mercado pequeno, maduro, e com uma grande concentração ao nível dos retalhistas, o que dificulta a capacidade de negociação de alguns produtores, houve que decidir como e por onde é que a empresa poderia crescer. Tomadas essas decisões, o grupo alienou outras áreas de negócio, como a Triunfo e a Compal, focando-se nas gorduras alimentares, onde concluíram haver mais potencial de crescimento, e começaram a expandir-se a nível internacional.

Primeiro, foi a vez de Espanha, onde entrou em 2001 através da compra da Agribética, transformando-se no segundo maior operador do sector na Península Ibérica. Depois, apostou no Brasil e entrou nos Estados Unidos com a aquisição de 80 por cento da East Coast Olive Oil.

Actualmente, Espanha, Estados Unidos, Brasil e Tunísia são, por esta ordem, aos principais mercados da Sovena. No caso espanhol, a associação à Mercadona revelou-se essencial para o desenvolvimento do negócio, através da fabricação da marca própria de azeite desta cadeia de retalho, a Hacendado. Uma vez que tem também as suas marcas, como o azeite Oliveira da Serra em Portugal, a empresa parece ter encontrado um equilíbrio entre a colocação dos seus próprios produtos e o fabrico de marcas para os retalhistas. "A nossa estratégia de marca versus marca própria adapta-se às condições e exigências de cada mercado", diz Jorge de Melo.

Para este ano, não obstante o sucesso da operação espanhola, a estratégia da Sovena passa por crescer fora da Península Ibérica, devido, como diz Jorge de Melo, ao "elevado estado de maturidade destes mercados". As atenções estão agora viradas para países como os Estados Unidos, não fosse este o maior mercado não produtor de azeite em todo o mundo, tendo ainda um enorme potencial de crescimento.

Se em Portugal cada habitante consome cerca de seis a sete litros de azeite por ano, nos Estados Unidos esse indicador desce para apenas um litro. E o consumo deste produto tem vindo a crescer de ano para ano. E, depois de terem avançado para uma nova fábrica neste país, que ficou pronta em Setembro de 2008, a Sovena comprou há poucos meses os 20 por cento que ainda não detinha da ex-East Coast Olive Oil, hoje Sovena USA. Um dos seus clientes é a Wal-Mart, maior retalhista alimentar do mundo, o qual abastece através de uma marca própria. Mas a ideia é crescer neste mercado através de uma nova marca da Sovena, criada no ano passado, a Olivari.

Fortalecer posições

Em 2009, a empresa apostou noutra nova marca, baptizada de Soleada, via Sovena Espanha, de modo a "poder entrar ou fortalecer a sua posição em mercados-chave, onde os azeites made in Spain são muito apreciados pelos consumidores". No caso do Brasil, onde o consumo é elevado e se verificam boas taxas de crescimento, a marca já existe: chama-se Andorinha, e foi criada há mais de 80 anos. Tendo sido comprada pela Sovena há cerca de sete anos, é através dela que o grupo quer cimentar a posição de segunda marca deste mercado e, segundo Jorge de Melo, "aproximar-se da liderança". Depois, a empresa está ainda a espreitar grandes países emergentes, afirmando o gestor que quer estar presente "no arranque de mercados com muito potencial, como a Índia e a China".

No meio de tudo isto, há ainda um desígnio por cumprir: deter uma marca de azeite de âmbito mundial. De momento, como diz Jorge de Melo, a Sovena está a apostar nas suas duas novas marcas, a Olivari e a Soleada, que, acredita, "podem ter essa ambição" de globalidade. Mesmo assim, o gestor diz que "uma aquisição de marca existente, nomeadamente italiana, não está posta de parte".

Sugerir correcção
Comentar