Uma coligação com o BE “não repugna nada” a Mário Soares

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Cláudia Andrade

Mário Soares admitiu esta tarde que o PS “talvez não [renove] a maioria absoluta e nesse cenário não excluiu a hipótese d euma coligação com o BE. “Não me repugna nada”, disse aos jornalistas, no fim de um breve comício em Matosinhos, onde se escusou de falar sobre o caso das suspeitas de que Belém pode estar sob vigilância do Governo.

Instado a comentar a expressão “a esquerda possível” usada ontem à noite por Manuel Alegre em Coimbra, o fundador do PS considerou que José Sócrates “tem condições para ganhar, talvez não com maioria absoluta, mas para ganhar”. Mas uma maioria relativa não o preocupa, “pelo contrário”.

Se esse for o cenário, não exclui um entendimento com o BE. “Eu não tenho que fechar a porta, eu estou reformado”. E embora tenha deixado claro que “essas coisas discutem-se à posteriori, nunca antes”, lá deixou escapar que uma coligação com o BE “não [lhe] repugna nada”.

Pouco depois, numa já anunciada declaração aos jornalistas, o porta-voz do PS, João Tiago Silveira, mostrou até que ponto os socialistas temem a fuga de votos para o BE. Em que nada o fizesse prever, afirmou que "o BE é uma miragem e as miragens não resistem ao teste da realidade", acenando com os custos para o país do programa de nacionalizações do Bloco. "As nacionalizações custam 51 mil milhões de euros, o equivalente a todas as receitas do IRS que os portugueses pagam durante cinco anos", disse e repetiu. "A opção é se queremos gastar esse dinheiro em nacionalizações ou utilizá-lo para fazer avançar o SNS e as políticas sociais ou aplicá-lo em nacionalizações".

Nunca se referiu nem ao PSD nem à CDU, que tem um programa idêntico nesta matéria ao do BE. Só quando questionado pelos jornalistas é que afirmou que os argumentos também são válidos para o PCP. E que a preocupação do PS é a direita, que beneficia com a dispersão de votos à esquerda. Foi o apelo sem agravo ao voto útil.

Sobre as suspeitas do Presidente da República de que Belém pode estar a ser vigiado, Mário Soares recusou-se a comentar. “Eu sou membro do Conselho de Estado e não me refiro senão ao senhor Presidente da República sempre que há um Conselho de Estado”. E nem sequer aceitou dizer a sua opinião sobre se devia haver uma reunião deste órgão consultivo sobre o assunto: “Isso é com o senhor Presidente, eu já fui Presidente há muito tempo, já nem me lembro”.

Mário Soares também desvalorizou as acusações de “asfixia democrática” do PSD: “Isso não é para levar a sério. Dizer que a democracia está asfixiada e depois gabar a Madeira é uma coisa que não tem sentido”. Mas não se sente ofendido, porque não se ofende “com disparates”.

“A campanha tem corrido razoavelmente, com alguns incidentes mas que são, digamos, naturais”, tinha começado por afirmar. “Acho que o PS tem feito uma excelente campanha e que o Sócrates começou por ganhar todos os debates, indiscutivelmente e revelou-se muito diferente da imagem que lhe queriam dar”. Sobre a prestação de Manuela Ferreira Leite, tem apenas duas palavras: “Uma desgraça”.

No Parque 25 de Abril, onde se juntaram centenas de pessoas para o almoço-comício, voltou a ouvir-se o slogan das primeiras eleições presidenciais ganhas pelo fundador do PS: "Soares é fixe". E desta vez outro líder do PS também teve direito ao adjectivo: "Sócrates também é fixe".

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