Orgulhosamente sós

A retórica da solidão é sempre perigosa. E já começou a apodrecer. Os ingleses estão a tornar-se no que mais temiam: ridículos.

Ontem, pela primeira vez na vida, abri o Spectator e senti calafrios. O meu semanário favorito começa a assustar-me. O nacionalismo inglês — realço o inglês — era uma coisa que eu felizmente desconhecia.

Logo de manhã espantei-me com o discurso de Amber Rudd, ministra do Interior, a acusar empresas britânicas de empregar demasiados estrangeiros, prejudicando assim os trabalhadores britânicos. O tom de “name and shame” era indisfarçável. James O’Brien, da estação de rádio LBC, leu um parágrafo do Mein Kampf que levava só um pouco mais longe a xenofobia da ministra.

É sempre mau sinal quando começam a contar os estrangeiros. É sempre mau sinal quando se começa a dividir as pessoas em elas e nós. É sempre mau sinal quando um fabricante de sofás, acusado de empregar mais estrangeiros do que britânicos, responde que é mentira e apresenta provas de que emprega mais britânicos. A resposta correcta seria mandá-la dar uma volta ao bilhar grande. Com toda a legalidade — pelo menos por enquanto —, a empresa pode nem sequer ter um único trabalhador britânico.

Os conservadores ingleses estão a competir selvaticamente para ver quem é que consegue ser mais “brexiteiro”. No Spectator até o civilizado Charles Moore faz piadas sobre pessoas excessivamente educadas e escolhe como lema as palavras suspeitas do genial mas xenofóbico pseudo-inglês T.S. Eliot: “Now and England.

A retórica da solidão é sempre perigosa. E já começou a apodrecer. Os ingleses estão a tornar-se no que mais temiam: ridículos.

 

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