Não fica por aqui

Cabe à União Europeia portar-se bem e com juízo com o Reino Unido.

No Reino Unido (RU) o resultado do referendo tem tido o efeito perverso de reforçar o gosto pela União Europeia (UE) entre aqueles que, tendo votado para ficar, o fizeram com alguma relutância ou indiferença.

Como canta Joni Mitchell no Big Yellow Taxi: “you don’t know what you’ve got till it’s gone”. Foi esta energia e convicção, repentinamente criadas ou reanimadas, que faltaram aos políticos ingleses que fizeram campanha pelo Remain.

O falso e oportunista Boris Johnson mostrou-se genuinamente arrependido. Como lembrou Michael White no Guardian ele detesta que não gostem dele. E é essa a causa do arrependimento. Mas também há ali, no segredo da cabeça de um cosmopolita que nunca poderia querer que o RU saísse da UE, a tal súbita apreciação pela aquela velha coisa que todos nos habituámos a rabujar.

Não me lembro de ter ouvido tantos elogios da União Europeia. Não me refiro a medos de sair dela mas, sim, a descrições sentimentais dela como a casa comum, o lugar onde discutimos as nossas coisas, o melhor dos males.

Cabe à UE portar-se bem e com juízo com o RU. Com tanta gente a querer ficar (sobretudo os mais novos, que estão para durar) esta saída merece ser tratada como uma separação e não um divórcio.

Cheira-me que, não tarda muito, vem aí uma reconciliação. Ou mesmo uma reafirmação do casamento, que poderá não ser inteiramente de conveniência. Aposto que até haverá algures, no cantinho de um único olho que seja, um principinho de lágrima.

 

 

 

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